Direto de Brasília-DF.
Falar do “Homem sábio” ou Homo sapiens é falar de um marco histórico indefinido. Na década de 60 falava-se que o homo sapiens havia adquirido os hábitos que temos, por volta de 35.000 anos a.C, até 2016 se estimava que fossem 50 mil anos e em 2017, evidências arqueológicas falam de 300 mil anos, na África Oriental. Estas datas certamente mudarão no futuro.
O processo de educação e de ensino em sentido abrangente nasceram com o homem, independente de ser ele o homem erectus ou o sapiens. Se a educação for “a arte de fazer a alma dar à luz, a ideias”, então não há porque se exasperar com o fato de estarmos no planeta ha milhares de anos, sendo a maior parte deste tempo sem registro escrito do que ocorreu no passado.
O processo de Ensino é corolário ou subproduto do processo de educação. Quando alguém educa outrem necessariamente o ensina algo. A recíproca não é verdadeira, como já explicamos em artigos anteriores.
Thomas Ransom Giles diz que o processo de educação primitivo era, acima de tudo, um processo de enculturação, ou seja, de transmissão dos traços culturais dos antepassados aos novos nascidos, a fim de torna-los membros de determinado grupo. Essa ordem grupal e social normalmente era tribal. Em princípio formada por tribos nômades que com o passo dos anos tornou-se sedentária, ao aprender a cultivar a terra e criar rebanhos próprios. A desnecessidade da caça e da pesca os assentou em terreno fixo e acentuou a importância da propriedade privada.
O homo sapiens, diz-se, notabiliza-se por sua capacidade de arrazoar a vida, de medi-la, racionalizá-la, de passar suas ações e omissões pelo filtro da razão e, a razão como sabemos permite criar, conservar e aperfeiçoar a existência e seus subprodutos.
Essa capacidade de criar e perpetuar ou de criar e de fazer rupturas está no ser humano e é influenciada em maior ou menor intensidade pela cultura que cada grupo social cria ou adota em torno de sua relação com o conhecimento científico. Cultura, afinal, é modo de pensar, de agir e de sentir a vida.
Há uma simbiose forte entre a cultura e um povo, pois tanto quanto uma cultura pode moldar um povo, um povo pode moldar sua cultura. No que diz respeito ao processo de educação, Thomas Giles diz que o processo de enculturação objetiva “transformar a criança, naturalmente egocêntrica, no adulto participante da cultura do grupo”. Me agradam os autores que não “santificam” nem “mistificam” crianças e adolescentes como o faz Giles ao chamá-las de egocêntricos, verdade que as ciências sociais e psicanalíticas confirma.
Thomas Ransom Giles diz, ainda, que o processo educativo “visa a que a criança assimile os padrões cognitivos, afetivos e comportamentais do grupo”. Sem dúvida, a cultura do grupo é que vai, em princípio, determinar o desenvolvimento espiritual, intelectual e emocional de cada novo membro dessa sociedade grupal.
A julgar pelo que diz Giles, parece fácil assimilar que o fim do processo educativo no homem primitivo era o de enculturar as novas gerações, para que todos fossem “um”, o que o “Sacro império romano” vai chamar em latim de Unus pro omnibus, omnes pro uno, frase eternizada pelo romancista francês Alexandre Dumas na novela “Os Três Mosqueteiros”, e também pela poesia norte americana como “One for all, all for one“, ou “Um por todos e todos por um!”. Essa frase é adotada pelo Moderno Estado Democrático de Direito. Lamentavelmente, o povo é pelo governo e o governo não é pelo povo, o que leva ao rompimento do pacto socialmente adotado.
O processo educativo do homem primitivo tinha por fim prepará-lo para a vida em família, na tribo, na vila, ou seja, no grupo. Escolas são instituições tardias na História, também porque as micro sociedades existentes não necessitavam de mais do que o domínio da caça, da pesca e do básico para sobreviver. Não havia competição por Mercados.
Assim, para a criança primitiva educação e conhecimento residiam no seio da família. Aprender a conviver no grupo, a caçar, a pescar e, algumas técnicas de liderança era meio para sobrevivência com a ração diária e, no máximo, para assumir algum lugar de chefe na família ou de honra entre os guerreiros das tribos e clãs.
Escola não era símbolo nem possuía significado para o ser humano primitivo. Ela não existia como um prédio ou instituição com seus administradores e professores disponíveis a doar seu tempo e vida para a ensinar, orientar e formar caráter de alunos. A grande escola era a família e a vida, da qual se extraíam experiências e onde se cultivava obediência à repetição dos padrões dos antepassados. Em princípios nenhum filho ou aluno ousava questionar, inclusive porque não havia espaço algum para inconformismos…
Até breve!