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A História da Educação e do Ensino. Episódio de hoje: O Ensino, a educação e o ser humano primitivo (Parte 2).

Direto de Brasília-DF.

Como separar Educação do Ensino? Há necessidade de tal separação? A linha é tênue, mas creio que podemos e devemos separar as duas atividades!

Educar é processo de toda uma vida no qual a Escola é mais uma estação na qual o paciente desce, como se estivesse fazendo uma longa viagem de trem, e nela tivesse de parar em várias cidades distintas.

No processo de educação a transmissão de sinais obrigatoriamente tem de ir muito, mas muito além da informação e esta atividade é obrigação das famílias, do Estado e de toda a sociedade.

As famílias devem transmitir a seus membros desde a mais tenra idade, Lições que sequer constam de currículos escolares. Por exemplo, em casa ensina-se como os membros de determinada família devem se comportar nos templos e obedecer ás regras da religião que professam e dos demais ciclos sociais que frequentam. O que a Escola tem a ver com isto? Nada! Nada, mesmo! Agora, o que os filhos aprendem tem função reflexa nas Escolas? Indiscutivelmente, sim!

Por exemplo, se a religião dos pais ensina intolerância com as diferenças o membro desta família, que na escola tem status de aluno, provavelmente vai replicar o que os pais pensam. Este ser que desde bebê observa os exemplos dos pais não possui formação racional capaz de racionalizar a vida e nem tampouco signos e significados linguísticos para formular linguagem e comunicação apropriados ao convívio pacífico com minorias, com pessoas diferentes dele. Afinal, não há escola nesta fase,

A própria Escola é influenciada e direcionada, em muitos casos, a distorcer conteúdos científicos para conter massas de conhecimentos que estão mais ligadas a crendices e ideologias políticas dominantes, que à investigação científica isenta de preconceitos. 

Quando estive em Cuba em meados de 2008 observei escolas e fotografei seus muros escritos com os três lemas da juventude comunista: Estudo, Trabalho e Fuzil. O ser humano é desde seus primeiros dias de vida uma espécie de massa biológica e, sobretudo, psicológica que pode ser moldada para inúmeros fins. Parece-me certo que tanto quanto podemos moldar a cultura, por ela podemos ser moldados e neste contexto, o que resta é avaliar os frutos desta equação para sabermos que virtudes dela extrair.

Se nossas primeiras Lições estiverem voltadas para o estudo, o trabalho e o fuzil, provavelmente nossa estrutura mental estará condicionada a uma série de três fatores que não inspiram a liberdade e a criatividade. Um currículo tal como esse, primeiramente é um sopro externo de um governo que predeterminou ou pretende predeterminar todos os seres humanos daquela coletividade à utilidade que a tal governo lhe parece apropriada. Do mesmo modo que as famílias direcionam, treinam, adestram seus membros para crer e agir conforme o currículo oculto que cada uma delas adota, uma sociedade, um Estado e uma Escola também o podem fazer.

Por exemplo, no seio das famílias são ensinadas as primeiras regras sobre hierarquia como relação de subordinação em que um manda e outro obedece. Nesses pequenos coletivos, que terminam por ser imagem e semelhança da sociedade que formam ensina-se ou deveriam ser ser ensinadas regras de higiene (asseio do corpo em geral como tomar banho, usar antitranspirantes, cortar unhas e cabelos, catar os piolhos da cabeça, etc), jogar lixo na lixeira, respeito para com as diferentes cores, procedências, credos religiosos, opção sexual, etc. Tais orientações das mais diversas formas devem amalgamar um ser humano ético e socialmente moral, tão consciente de seus direitos quanto de seus deveres para com as diferentes pessoas que lhe cercam.

Esse processo educativo existente na família deve espraiar-se por toda a sociedade, para que desta sociedade saiam pessoas com espírito educado pela ética, para o convívio social e a assunção dos muitos cargos e mandatos públicos de direção, administração e governo da Nação(conceito que expliquei na série anterior de artigos “O dilema da lealdade dividida entre Nação e Estado”).

Não cumprida esta sequência educacional (família, sociedade, Estado) e querer um ser humano ético é ignorar que o mesmo ser humano é capaz de grandes virtudes é capaz das maiores atrocidades. Escolas não são oficinas de lanternagem e pintura! Filhos e cidadãos cuja as estruturas mentais foram “quebrados” e amassadas, dificilmente podem ser consertados em Escolas, como se Professores e Orientadores Educacionais fossem funileiros e exímios pintores.

A Educação deve ser vista como missão de famílias comprometidas, de uma sociedade menos hipócrita e de um Estado ético, que persiga os desonestos e deixe os honestos livres para criarem. Durante muito tempo nossas sociedades urbanas cultivaram a ideia falsa de que Educação era “coisa” dos homens que viviam em grandes cidades.

Muitos camponeses desejavam enviar seus filhos para serem educados na cidade grande, sem saber que pessoas nascidas, criadas e que morreram no campo estavam revestidas por uma armadura de educação “espiritual” extremamente mais forte que o simples saber científico. Porventura estou a dizer que um invalida o outro? Por óbvio não! Gosto da complementaridade. Me agrada pensar que a associação dos diferentes é capaz de gerar evolução, por mais que esta não seja a regra. Afinal, afora os dogmas, o que é absoluto?

No processo de educação estamos todos os seres humanos caminhando em uma espécie de névoa densa. Explico minha analogia. Vejo essa névoa como o somatório de todas as informações e experimentações sensoriais que nos envolve durante toda a vida.

Essas informações e experimentações sensoriais(visão, audição, tato, paladar, gustação) que absorvemos ou que nos são impostas por toda e qualquer forma de interação social, quer seja de forma autodidática (aprendendo sozinhos) quer venham de currículos escolares de todos os graus, é que vão esculpir em nós a figura do cidadão, do consumidor, do soldado, do aluno, do Professor, do bom marido e boa esposa, do bom religioso, do bom político e por aí vai…

Nesse processo de educação, a escola (que é agência de ensino e não de educação) também passa a contribuir porque as informações curriculares sobre matemática, idiomas, ciências, etc., ensinam o ser humano a refletir seu papel existencial e cultural. Esta atividade age construtiva e disruptivamente no interior do Ser que se reflete, proporcionando a possibilidade de se construir e se desconstruir para se construir quantas vezes sua busca pela felicidade lhe impuser.

O ser humano primitivo fez essa jornada de autoconhecimento e de reconhecimento do que o cerca. As diferenças existentes entre ele, nós e as gerações que virão, em parte estão documentadas pela História e as demais dependem da capacidade que pudermos imprimir de antever o mínimo do que o futuro vai antecipando segundo a segundo.

Quem tem olhos para ver, que veja e, quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!

Até breve!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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