Direto de Brasília-DF.
O sistema educacional primitivo compreendia o conhecimento adquirido pelos ancestrais, inclusive, o conhecimento místico-religioso que era inculcado em cada novo membro de cada coletividade familiar.
Esse conhecimento, entretanto, foi e continua sendo dogmático. Lembre-se que um dogma é uma verdade que pretende ser imutável, logo, o conhecimento religioso foi e continuará sendo em sua essência contrário ao conhecimento evolutivo científico, todas as vezes que a ciência ameaçar a verdade religiosa.
Some-se ao que foi dito, o medo inculcado pelas religiões primitivas. Na sociedade primitiva acredita-se que os espíritos malignos estão por toda parte e, todas as ações das pessoas deve ter como fim aplacar a ira desses demônios devoradores de colheitas, rebanhos e de seres humanos. Em algumas tribos e civilizações primitivas, os deuses exigiam mais! Exigiam o sacrifício de seres humanos para aplacar sua ira, isto segundo a interpretação das classes sacerdotais que se arvoravam em ser os porta vozes desses sarcásticos, violentos e insaciáveis de sacrifícios, que exigiam ser temidos como forma de não enviar pragas e “redemoinhos de fogo” contra seus adoradores.
Esse pensar medroso será responsável por moldar a alma e o pensar do homem com o sentimento de culpa e da subserviência a seus deuses e este modo de crer pouco mudou, pois ainda hoje as religiões mais influentes são aqueles que possuem um sistema de castigo e recompensa para seus fiéis.
A vida do homem primitivo e mesmo a vida do homem de nosso tempo em religiões modernas será regida pelo conhecimento dogmático e pelo serviço incondicional que deve prestar a seus deuses.
O fiel sempre teve de se desdobrar entre o homem “mundano” e o homem “espiritual”, entre o “santo” e o “profano” modo de viver. Impossível desvincular essa religiosidade do processo educativo e do processo de ensino, pois a doutrinação religiosa que começa em casa termina por se estender a toda a vida do homem primitivo em sociedade.
Paralelo a esse homem religioso, está o homem “provedor” da família, obrigado a trabalhar duro para alimentar a si, sua família e as classes sacerdotais que controlam a tudo e a todos, desde as colheitas até à procriação, desde o tamanho do animal a ser oferecido em sacrifício de acordo como tamanho do pecado ou ofensa aos deuses, até o quanto deve dizimar de seus bens e dinheiros para “agradar” ou não ao seu deus.
Sobre o currículo oculto:
Os sacrifícios para alimentar seus deuses com imolação de animais que tinham de caçar; com a doação dos alimentos que tinham de cultivar; com o tempo voluntariado que tinham e têm de dedicar, sob pena de na ausência desses inúmeros “dízimos e ofertas”, não obter o adequado status, oportunidades terrenas e até mesmo ser ameaçado com a perda de algo que, em tese, o próprio diabo teve e ele não, ou seja, o paraíso celestial, criou um processo educativo cum um currículo oculto que de tanto ser ensinado e reforçado, os professores e alunos tendem a seguir com maior rigidez que qualquer currículo acadêmico. Somente à partir do século VI a.C., na Grécia, esse quadro começará a mudar, como explicaremos em artigos que virão.
Thomas Ransom Giles diz que “O medo, que faz parte essencial das religiões primitivas, amolda os valores, as atitudes e as ações mais comuns do grupo… Este será mais um elemento que contribui para a formação de uma cultura altamente conservadora, com reflexos inegáveis no processo educativo.”
Essa influência do conhecimento religioso agregará ao inconsciente e consciente coletivo primitivo um processo educativo que depende de inúmeros e perpétuos rituais de iniciação na vida adulta e nesta época, a vida adulta é vista como fonte de fome, dor e privações diversas, impostas pela natureza e pelos predadores terrenos e pelos predadores espirituais, ou seja, os inúmeros demônios que o ser humano primitivo costumava “enxergar” em tudo.
Nessa sociedade primitiva o processo educativo totalmente na tradição oral e no misticismo tem como fim inculcar no ser humano a disposição para agradar seus deuses e evitar a vingança divina materializada em terremotos, maremotos, chuvas torrenciais, inundações, incêndios e secas, além de livrá-los dos “espíritos maus”. Inegável que nessa lide cotidiana havia um processo de conhecimento, na medida em que o aprendizado de como se proteger de animais selvagens e predadores, assim como de se proteger de eventos da natureza agregava um conhecimento pragmático que era transmitido oralmente de pai para filho e, por vezes aperfeiçoado, na medida em que mais se prestava atenção aos eventos que se repetiam como chuvas, inundações, hábitos dos animais caçados, dos peixes pescados e dos campos plantados.
Sobre o sacerdote escriba:
Esse relato sobre a religião não pode apagar da história a contribuição que deu ao desenvolvimento da escrita, da educação, do ensino e da própria ciência, na medida em que ao desafiar a verdade científica e objetiva, ela forçou, na dúvida, a que a ciência fosse e seja capaz de responder aos desafios de compreensão sobre a origem e funcionamento da engrenagem do universo e da vida. Por exemplo, você sabia que um dos primeiros escritores e cientista das letras foi o chamado “Sacerdote escriba”? Pois é! Ele era um sacerdote! Então, o dogmático pode rejeitar o cientista, mas o cientista não pode rejeitar o dogmático…
Para o ser humano primitivo o conhecimento passa a influenciar significativa e exponencialmente o processo educativo, sobretudo à partir do momento em que descobre que seu maior inimigo não estava na natureza nem entre os animais selvagens e de raciocínio ínfimo. O maior desenvolvimento do processo educativo e de ensino ocorre a cada momento que o homem descobre que ele é, propriamente, seu maior inimigo.
Até breve!