Campeonato Pernambucano
Por CLAUDEMIR GOMES
A prudência nos sugere evitar comparações entre o ontem, e o hoje. Forma simples de impedir que o saudosismo dificulte nossa adequação as mudanças impostas pela nova ordem. Entretanto, algumas coisas nos parecem atemporais, e nunca irão perder a relevância, independente do contexto momentâneo.
O Clássico das Multidões – Santa Cruz x Sport – que reúne as duas maiores torcidas pernambucanas, é um atestado de que, o futebol vai muito além daquilo que acontece durante os 90 minutos do jogo jogado dentro de campo. E não adianta consultar antropólogos, sociólogos, psiquiatras, porque todos se perderão em elucubrações.
Após décadas observando, e testemunhando, o comportamento e ações de tricolores e rubro-negros, cheguei a conclusão de que, o amor declarado a um clube não se mede, tampouco existe para ser compreendido. As loucuras do amor podem até não ter o futebol como berço, mas fez dele sua morada. A ordem é não tentar descobrir os mistérios, e viver, com intensidade, as fantasias.
Soou como agressão a decisão tomada para que, os dois jogos das semifinais do Pernambucano 24, envolvendo Santa Cruz e Sport, sejam restritos a torcida do clube mandante. Enfim, numa canetada deletaram o Clássico das Multidões.
A medida, considerada lucida e coerente, não é outra coisa senão a rendição do bem, ante o triunfo do mal. As ações terroristas das organizadas, que há anos levam pânico as ruas do Recife em dias de jogos; foram respaldadas por alguns gestores de clubes e colocaram a Polícia Militar em cheque.
Recentemente assisti, pela televisão, uma edição do mais famoso clássico carioca: o Fla x Flu. O Maracanã estava dividido em três setores: um para a torcida tricolor do Fluminense; outro para os rubro-negros do Flamengo e uma zona mista onde se observava uma harmoniosa convivência entre os torcedores dos dois clubes.
Pergunto: Que fórmula é esta que os cariocas têm, e que nós não temos?
A magia do Clássico das Multidões é indescritível. A torcida chama, para si, a responsabilidade do confronto, na certeza de que, a energia que emana das arquibancadas funciona como ponto de desequilíbrio.
O ex-governador, João Lyra Neto, tricolor confesso, certa vez me revelou que o que mais lhe encantava nos clássicos era o “espetáculo das bandeiras”. Recordo que, as rádios que transmitiam os jogos, na busca pela maior audiência, promoviam até concurso para escolher a bandeira mais bonita naquela edição do Clássico das Multidões, onde o torcedor era tratado como protagonista do espetáculo.
As multidões foram isoladas! Sinais dos tempos.
Nas Bets da vida, a maioria das apostas cravam vitória dos mandantes.
A violência está levando o futebol a ficar óbvio.