Direto de Washington,DC-EUA,
Ele saiu do Brasil cedo. Morou legalmente em 6 países para estudar e trabalhar. Atingiu o ponto máximo da carreira acadêmica quando realizou um Mestrado em Gastronomia no “Basque Culinary Center”, no País Basco, um dos cursos mais cobiçados do mundo moderno. Ainda na Espanha, trabalhou como Chef privado para milionários que visitavam Barcelona. A sua carreira como Chef mudou quando cozinhou para ilustres figuras de Hollywood. Hoje vive em Washington DC, nos EUA, e se prepara para abrir o seu restaurante e lançar o primeiro livro de contos, projeto que realizou enquanto os restaurantes fecharam na pandemia.
Sua trajetória de vida passa por coragem, resiliência e eternas buscas por novos parâmetros. Mas, a partir da perseverança continua materializando sonhos e está aqui para nos relatar um pouco de si, porque Aluizzio Vieira é uma dessas “Histórias de quem não desiste”.
Projeto final do mestrado no Basque Culinay Center
Senhoras e Senhores com vocês o Chef Aluizzio Vieira, direto de Washington, DC-EUA:
Judivan Vieira: Fale um pouco sobre você.
Aluizzio Vieira: Saúdo aos leitores. Me chamo Aluizzio Vieira e tenho 41 anos. Nasci em Campina Grande, mas cresci numa família de classe média em João Pessoa, na capital da Paraíba.
JV: Como nasceu a ideia de viajar pelo mundo? Foi frustração com o Brasil ou uma mentalidade que pedia ir além?
AV: Minha saída do Brasil foi estratégica. Estava recém-graduado em Turismo e após viver e trabalhar por 6 meses na praia da Pipa no RN, me apaixonei pela arte de cozinha. Como os cursos de gastronomia no Brasil eram muito caros, decretei que iria para a Argentina a qualquer custo. Na vida, se você não decidir o que quer, outros decidirão o que você não quer.
Entrega de diploma na Argentina
JV: Inicialmente você traçou objetivos e metas antes de imigrar ou decidiu e foi?
AV: A organização foi mínima, mas quando decidi que iria de qualquer forma, tanto familiares como amigos me apoiaram. Recebi envelopes com dinheiro e cartas de apoio e incentivo. Quando realmente se acredita nos sonhos, tudo se move na mesma direção; as coisas parecem cair do céu.
Chef Alluizio em Madrid para o maior congresso de gastronomia do mundo – Madrid Fusion
JV: Conte-nos por quantos países passou e o que de melhor aproveitou de cada um deles.
AV: Passei por dezenas de países, mas morei legalmente na Argentina, Espanha, Portugal, Irlanda, Canada e agora nos Estados Unidos. Cada lugar do nosso planeta nos oferece uma perspectiva diferente. Alimentos que só crescem com aquela variante climática ou cores que só se formam com a união de elementos químicos daquela determinada região. Tento absorver a singularidade que a natureza e as pessoas oferecem, para então formar a minha percepção e discurso. É preciso estar pronto para as diversidades, venturas e adversidades do que nos une como humanos e nos separa como idealizadores.
Chef Alluizio em Londres
JV: Quando estive na Galícia, Espanha, descobri que o português galego é mais fácil que o de Portugal; que os galegos têm mania de conversar dando tapinhas nas costas como os brasileiros e descobri no dicionário da Real Academia Espanhola que a expressão nordestina “gota serena” existe no mundo hispânico, ou seja, muitas expressões que as pessoas utilizam no linguajar interiorano são desprezadas por aqui no Brasil, mas têm origem europeia de onde vieram nossos colonizadores. Em suas viagens pelo mundo você percebeu algum “paralelo” entre a cultura do nordeste do Brasil e a cultura alienígena com as quais teve e tem contato
AV: Acredito que estamos ligados por conexões que vão além da semântica. Depois de viver em sete países percebi que somos todos cidadãos do planeta Terra. As culturas são apenas cortinas a serem abertas, sem a necessidade de mistificar quem é melhor que o outro. Muito ou tudo do que vivemos atualmente ainda são os ecos das primeiras civilizações. Temos os mesmos reis, continuamos comendo animais, temos guerra por recursos naturais ou pelo ego de manter os privilégios e por aí vai. Estamos conectados pelo mesmo código genético e aprisionados pelo medo de sermos esquecidos. Mas, costumo dizer que: quando se tem fome todos falam o mesmo idioma.
Chef Alluizio, coletando cogumelos em Bowen Island – Vancouver e parando na maior árvore da ilha
JV: Há quanto tempo vive fora do Brasil e em quê se especializou academicamente?
AV: Estou a 13 anos vivendo fora das terras brasileiras. Tenho duas graduações e duas pós-graduações em turismo e gastronomia, um curso completo em sommelier e um Mestrado em gastronomia molecular.
Chef Aluizzio, trabalhando numa mansão em Barcelona
JV: Em que momento começou a racionalizar a vida com objetivos e metas específicas para construir um caminho acadêmico e profissional de êxitos?
AV: Desde adolescente queria fazer graduação em turismo, porém não sabia para que ramo dessa indústria iria dedicar as minhas expectativas. Quando Trabalhei em alguns restaurantes na praia da Pipa, no estado do Rio Grande do Norte, me apaixonei pela gastronomia. Foi onde tudo começou.
JV: As pessoas tendem a olhar para quem colhe êxitos sem refletir sobre a longa história de construção da vida pessoal, acadêmica e profissional. Qual foi o processo de construção para se tornar a pessoa e o profissional que hoje é?
AV: o início do processo se constitui em acreditar nas suas escolhas. Prepare-se para as críticas mais severas, pois poucos entendem os ideais alheios. Não deixe que pessoas sem sonhos te convençam que eles não existem. Para os estudos? Dedicação! Para o trabalho? Prática! Após uns 10 anos as coisas se equilibram naturalmente e as horas são melhores administradas para incluirmos o lazer na agenda.
Chef Aluizzio, comemorando a vida em Montreal, Canadá
JV: Além de sua obstinação pessoal para vencer há alguma pessoa ou pessoas que te inspiraram para perseguir a realização de seus objetivos e metas?
AV: Meu pai, Agamenon Vieira e minha mãe, Luzia Vieira são a minha fortaleza. É impressionante o amor dos pais pelos filhos. Mas também sou grato às enfermeiras e médicos que me ajudaram a chegar nesse planeta, aos agricultores que plantam as nossas fontes de energia, aos professores, familiares, amigos e o meu companheiro, David Rosenbaum.
JV: Qual foi o período mais difícil em seu processo de construção até chegar a ser essa pessoa de êxito que hoje é? Alguma vez pensou em desistir?
AV: Quando acreditamos nos sonhos, temos que estar preparados para as provações. Quando morei na Argentina não tinha dinheiro sobrando. Ia para o trabalho e faculdade de bicicleta e só trabalhava onde me ofereciam a refeição. Na época de prova, estudava dentro dos ônibus, entre um trajeto e outro. Era o meu único tempo livre. Porém, mesmo diante das adversidades chegava na faculdade com o uniforme impecável, um sorriso no rosto e focado em cumprir com o sonho que havia determinado. O que para muitos parecia ser um sacrifício, para mim foi uma escolha. Nunca cogitei desistir. O universo só trabalha ao nosso favor se formos leais aos nossos propósitos.
Chef Aluizzio, numa fábrica do queijo Parmeggiano Reggiani em Parma – Italia
JV: O que te manteve firme no cumprimento de seus objetivos e metas e impediu de se render ante as adversidades da vida?
AV: O meu sonho individual era ser um Chef de cozinha com experiencia internacional. Mas o meu sonho coletivo, que é ter um ateliê de cozinha em João Pessoa e repassar os meus conhecimentos aos menos favorecidos economicamente ainda não se cumpriu. Enquanto eu não realizar o meu sonho coletivo, não me renderei.
JV: Pensa em voltar a viver no Brasil ou sua mentalidade é de que terra boa é a que te acolhe bem?
AV: Os meus planos a curto e médio prazo não brindam a possibilidade de voltar ao Brasil. O mundo está em constante transformação, e diante das possibilidades que se apresentam pretendo continuar explorando novas regiões do nosso planeta.
JV: Erasmo de Roterdã, um dos mais influentes pedagogos do mundo, diz que conselho não se dá a quem não o pede. Sempre gostei de pedir conselhos a quem possui experiência e cujos êxitos estão expostos na vitrine da vida. Sendo assim, que conselhos você dá a quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos?
AV: Lembro-me que um Chef italiano renomado me pediu para largar a faculdade para trabalhar no seu restaurante por um valor monetário interessante. Eu nem pensei e respondi: Não saí do Brasil para largar o meu sonho pela metade, mas assim que eu terminar a faculdade tentarei outra entrevista. Ele riu com a minha rapidez, se levantou e se despediu. Dois anos depois, quando terminei a faculdade, recebi um telefonema dele dizendo que a minha vaga estava esperando por mim. Trocando em miúdos, Acredite em você. Não troque o seu sonho por uma felicidade efêmera. Seja leal aos seus propósitos e tudo se moverá ao seu favor.
Chef Aluizzio, na calçada da fama tocando a estrela com nome de amiga sua