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Longe do inverno previsto para o Venture Capital, agtechs devem despontar em 2023

* Por Henrique Galvani

O mercado de venture capital (VC) em 2022 apresentou uma realidade diferente do ano de 2021, período com recorde de aportes e montante investido em startups no Brasil e no mundo, dado o momento de desaceleração por conta dos impactos políticos e econômicos. Contudo, o ano de 2022 se posiciona como o segundo melhor ano em captações, com crescimento de 29% e 46% quando comparado a 2020 e 2021, respectivamente, segundo o Distrito Retrospectiva Report 2022.

Além disso, a redução de desempenho dos grandes players de tecnologia torna 2023 um período de incertezas para esse ecossistema, um fenômeno conhecido como ‘inverno VC’. Com essas novas perspectivas, os empreendedores passaram a entender que o momento do investimento de risco vem sendo mais realista e acompanhado de valuations substancialmente menores em estágios mais avançados, o que chamamos de late stage, isto é, com tickets de investimento consequentemente menores também.

Por outro lado, os estágios iniciais (early stage) ainda se mantiveram aquecidos, com mais fundos olhando para essa tese, devido a possibilidade de valorização via múltiplos ser maior. Portanto, para 2023, a expectativa é de um crescimento sutil para o VC, já que no momento atual os fundos precisam alocar o seu dinheiro já captado, enquanto se tem uma rígida seleção das startups e priorização em financiamentos das mesmas. É possível observar também que os fundadores estão fazendo melhor alocação dos recursos arrecadados, ou use of proceeds, além de buscarem diferentes alternativas de captação.

O segmento exigirá um perfil de investidor que aceita risco e está disposto a investir no longo prazo. Os investimentos em startups geralmente demoram de quatro a sete anos para o retorno, portanto, não é recomendável aplicar mais do que 10% do portfólio total.

As plataformas de equity crowdfunding, por exemplo, são a porta de entrada para a democratização dessa classe de ativo financeiro. Com cheques a partir de R$ 1.000,00, novos investidores podem ingressar nesse mercado e sentir o impacto do seu investimento nas startups e na economia, além de diversificarem suas carteiras de investimentos, fazendo com que os riscos se diluam.

Vale ressaltar que nessas plataformas também é possível investir na rodada com a participação de investidores líderes, que já conhecem sobre o negócio, o que reforça a diminuição dos riscos de investimentos para o investidor inicial.

Tempo aberto para a agtechs

Após análise de todos os possíveis riscos, vale acompanhar o mercado do agronegócio que chegou a 27% do PIB em 2021, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com isso, as chamadas agtechs, startups que atuam na união de recursos tecnológicos ao agronegócio, ganham destaque, já que vêm crescendo substancialmente em contrapartida a certa desaceleração no VC como um todo.

Inclusive, a plataforma de inovação Distrito Agtech Digital Hub identificou o crescimento do montante total investido em agtechs no Brasil de mais de R$ 193 milhões em 2022, sendo 111% maior que em 2021 e 25% maior no número de ofertas. Além disso, grande parte das startups do agro se encontram em estágios iniciais, atraindo ainda mais a atenção de investidores, com cerca de 70% das rodadas de captação em formatos pré-seed e seed, também com base nas pesquisas do Distrito Agtech.

Portanto, apesar de um desaquecimento, os investimentos no ecossistema de inovação vieram para ficar, sendo ótimas oportunidades para a diversificação do portfólio. A tendência é que o investimento nessas empresas inovadoras com alto potencial de escalabilidade e crescimento chame a atenção de investidores e atraia novos olhares para startups disruptivas que vêm se formando e conquistando espaço nesse mercado. É por isso que o ‘inverno VC’ deve descongelar em 2023, principalmente para as agtechs.

Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Paulista, Henrique Galvani é COO e sócio-fundador da Arara Seed, primeira plataforma de investimentos coletivos do setor do Agronegócio. Com uma atuação de 10 anos nesse segmento, o executivo tem passagens por empresas como Grupo BLB Brasil e BLB Ventures.

Sobre o autor

A oposição é necessária para avaliar a gestão, mas é importante distinguir entre oposição legítima e politicagem, que busca causar problemas e confundir a população. É preciso ficar atento para não cair nesse jogo manipulador.

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