DR PAULA MEYER

PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS: OFERTA DAS AÇÕES

Os anos 60, no auge do crescimento econômico brasileiro, conhecido nos livros de história, o Milagre Econômico, a performance da economia era invejável e a expansão alcançava os níveis chineses de dois dígitos: 11% ao ano.

A continuidade do ritmo frenético da economia estava diretamente vinculada ao tamanho da infraestrutira que o país oferecia ou detinha à época. E como sabemos, a energia constitui em um dos pilares que alicerçam e que garantem o movimento da economia nos médio e longo prazos.

E foi nessa linha de pensamento em que criou-se a Eletrobras em 1954, durante o Governo Vargas. A ideia era fundar uma empresa sólida do setor elétrico capaz de amparar o amplo projeto do país de industrialização em curso naquela época. A instituição de medidas de racionamento era comum e a consolidação de uma nação em uma trajetória firme de crescimento requisitava a ampliação dos investimentos em infraestrutura.

A Eletrobras foi criada nesse contexto. A coordenação das atividades inerentes ao setor – geração, transmissão e distribuição  de energia estavam concentradas em uma única empresa. O poderio da Eletrobras distribuído pelas subsidiárias Eletrosul, Eletronorte, Itaipu Binacional, CHESF era motivo de grande orgulho.

Em números, a Eletrobras possui uma capacidade de geração de energia elétrica equivalente a cerca de 1/3 do total da capacidade instalada do país. É uma empresa líder em transmissão de energia elétrica, detém o controle de quase a metade do total de linhas da rede básica, em alta e extra-tensão. Estão previstos investimentos da ordem de R$ 48,3  bilhões nos próximos 5 anos.

Esses números mostram a envergadura e o domínio da empresa Eletrobras. Em 2022, até abril pretende-se dar o passo inicial na direção da privatização. Atualmente a União detém 72% do controle do capital votante e com a privatização a expectativa é de que caia para 45%. Essa diluição é inerente ao plano de privatização em curso em 2022.

Estima-se que a operação de privatização vá render aos cofres públicos a bagatela de R$ 100 bilhões. As empresas que tem o interesse nas atividades desenvolvidas pela Eletrobras já tem uma noção clara por onde começar os investimentos. A maior parte vai para a modernização das linhas de transmissão, expansão dos projetos de renováveis e térmicas.

A consolidação da infraestrutura do setor elétrico é o que comandará as decisões de investimento. É crucial consolidar esse escoamento dos fluxos de energia de modo a garantir a segurança energética por todo o país.

Sabe-se que 95% da geração de energia encontra-se lotada dentro do Sistema Interligado Nacional do Setor Elétrico, o SIN,  mas a revitalização das redes e o aumento da capilaridade destas até o consumidor final constituem no maior desafio do setor elétrico.

A privatização foi discutida no parlamento brasileiro, a temática foi amplamente debatida com especialistas e com a sociedade. Na semana passada a Consulta Pública ocorrida mostra a importância em esclarecer e tornar o processo de privatização transparente e acessivel aos interessados e envolvidos na operação.

A partir de abril, estima-se que a definição dessa oferta das ações ocorra de forma exemplar conforme esperado e previsto em dezembro 2021.

 

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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