O falatório em torno do aumento da conta de luz ainda ronda as principais manchetes de jornais e meios de comunicação. As explicações trazem um viés jornalístico mostrando as fragilidades do modelo geração de energia elétrica no Brasil. Decifrar os aspectos técnicos, ambientais, operacionais de uma cadeia produtiva complexa como é o setor elétrico em poucas linhas é de uma maldade tamanha.
Primeiramente, o setor elétrico brasileiro não é capenga e não é pelo fato de majoritariamente a sua geração de energia estar atrelada as forças da natureza, com destaque a hídrica, que ele seja ruim. De fato, a capacidade de geração continuada dessas usinas depende da situação hidrológica.
Por outro lado, é importante esclarecer que o setor elétrico não está a beira de um colapso. Note que:
- O modelo de geração do setor elétrico brasileiro é um dos mais complexos e completos em termos técnicos e de segurança energética do mundo;
- A situação atual é uma situação inusitada que não ocorre faz 91 anos;
- O planejamento energético brasileiro em curso tem por detrás especialistas e analistas que estudam diariamente o consumo e a oferta de carga no sistema;
- A regulação do setor elétrico é consistente e bastante complexa haja visto que o tratamento das questões são específicas e restritas a cada um dos segmentos que compõem a cadeia produtiva do setor elétrico: geração, transmissão e distribuição.
Elencado dessa forma, a crise hídrica pode sim futuramente culminar em um racionamento de energia, ou seja, na adoção de medidas de redução de consumo de energia. Ou situações, de um possível apagão. Por sinal, o apagão, na tipologia da palavra, reconhece que temos uma situação em que há um déficit de potência, sendo portanto, necessário a adoção de medidas de desligamento do fornecimento de energia de algumas regiões para compensar o suprimento em outras.
Diante de tal quadro, a regulação do setor elétrico brasileiro se arvora em realizar os ajustes necessários em situações atípicas de modo a garantir minimamente o fluxo continuo de energia nas unidades consumidoras.
Algumas medidas são imediatamente adotadas, como o acionamento das térmicas, afim de garantir a oferta de energia ao longo do dia. A instituição de bandeiras tarifárias, tem o objetivo de remunerar essas usinas que estão “completando” a energia que está sendo consumida em tempos de hidrologia desfavorável. Uma vez que a geração do MWh produzido por essas usinas seja mais caro, as bandeiras tarifárias farão esse papel em remunerar de forma rápida essas usinas. A adoção de bandeiras tarifárias mais caras, irá recair na conta de luz do usuário ao final do mês.
Enquanto isso, os investimentos de empreendimentos de geração vão maturando e tão logo estarão aptos a entrarem em operação. A regulação confere o reconhecimento de uma situação inusitada e busca por meio de ajustes em seus incisos jurídicos fornecer a celeridade necessária ao atendimento da demanda de energia.
Com o prolongamento da crise hídrica, uma releitura das estratégias de planejamento energético no curto e no médio prazos é crucial, de tal modo que as decisões tomadas no presente possam aplacar os efeitos negativos no momento atual e minimizar no futuro os percalços.
A geração de energia elétrica no Brasil assenta-se 65% nas fontes hídricas, as fontes solar e eólica, que são intermitentes conferem o papel de complementar temporariamente a carga necessária mas não são elencadas ao papel coadjuvante de geração. Ambas as fontes são intermitentes, e para que possamos garantir a continuidade do fluxo de energia esse papel cabe as usinas de base: hídricas e térmicas.
Esse esclarecimento é importante fazê-lo aqui de modo a elucidar algumas informações que vem sendo veiculadas e que colocam a complexidade de um tema dessa natureza em um ou duas linhas de jornal e a desinformação gera uma imagem de negligência e de descuido de todos os profissionais, especialistas, Governo, agentes que fazem parte dessa complexa cadeia produtiva de energia.