Direto de Brasília-DF.
Historicamente livros foram queimados, perseguidos, e em circunstâncias várias, pessoas que defendiam suas ideias eram assassinadas com requinte de crueldade, como fez o Imperador Nero ao mandar incendiar cristãos e postá-los como se fossem velas ardendo em chamas para iluminar a noite da cidade de Roma, tudo porque aqueles crentes defendiam as ideias da bíblia.
Séculos após quando o cristianismo católico romano se sedimentou, os cruzados passaram a incendiar o Corão, livro dos muçulmanos. Hoje, islamitas radicais incendeiam igrejas e prensas de jornais que deles discordam e, não fosse uma mínima pressão política e midiática mundial estariam incendiando bíblias ao redor do mundo. Ocorre que queimar livros às vezes surte efeito contrário, pois se a pretensão é atacar a opinião do escritor por vezes finda por dar-lhe maior notoriedade.
No seio das doutrinas políticas, sociais e religiosas mais fervorosas há os que querem o posto de comando e promovem divisões. Foi assim que no ano de 1730, o arcebispo da arquidiocese de Salzburgo promoveu a maior queima de livros já registrada na Áustria, ao determinar que fossem incendiados todos os livros protestantes daquele país.
Essas brigas e disputas religiosas podem ter sido úteis no passado, mas gradualmente a revolução tecnológica e a globalização está cobrando seu dízimo. As novas gerações vão percebendo quão tolo é emburrecer Deus e colocá-lo contra a ciência.
O cinema, por exemplo, já reflete essa tendência mundial das novas gerações de escritores, diretores e artistas em filmes como “O Livro de Eli”, estrelado por Denzel Washington em 2010, que narra a distopia de um mundo pós-guerra nuclear que teria sido, em grande parte, destruído por guerras religiosas.
A política, propositalmente, segue dando sua contribuição à causa da cegueira coletiva e da perseguição aos livros. O comunismo, doutrina supranacional, social e política de esquerda ultrarradical, ao comandar a União Soviética encabeçada pela Rússia, entre 1917 e 1989, além de proibir a entrada de livros ocidentais nas Repúblicas que escravizou(Polônia, Checa e Slováquia, Ucrânia, Uzbequistão, Casaquistão, etc), mandou queimar os que lá haviam, por serem de ideologia Capitalista e, portanto, uma ameaça à ideologia esquerdista do Partido Comunista Central.
Não se iluda pensando que há paraísos sem serpentes. Em 1813, na chamada Batalha de Washington, os soldados ingleses usaram 3.000 livros da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos para incendiar o Capitólio. Poucos anos depois, em 1873, foi fundada a Sociedade Nova Iorquina para a Supressão do Vício, cuja finalidade em estatuto social era combater a “imoralidade”, como se fosse uma polícia de costumes. Sabe qual o símbolo dessa organização civil? A queima de livros! (veja o símbolo no final deste artigo)
Nos pós-Segunda Grande Guerra Mundial (entre 1940 e 1957, século XX) o Senador Joseph MacCarthy do Estado do Winsconsin fundou o “Macartismo”, política em que se instalou censura e perseguição contra livros comunistas.
No Macartismo, as próprias bibliotecas de vários estados norte americanos queimavam livros considerados comunistas. Talvez esse gesto tenha sido espelhado no filme “O dia depois do Amanhã”, quando livros são queimados na biblioteca central de Nova Iorque. Por óbvio, queimar livros para salvar a própria vida é um ato de estado de necessidade, da mesma forma que matar um animal em perigo de extinção com a exclusiva finalidade de salvar a vida da inanição é um ato aceitável e protegido pelos códigos penais mundiais. Mas, deveria ser considerado ato de terrorismo quando fora desse alcance.
Hitler também tratou de mandar queimar pilhas e pilhas de livros que julgava contrários ao seu regime político nazista. Nas praças de várias cidades alemãs o fogo ardia dia e noite. Os ideólogos de esquerda política usam até hoje esse ato como uma represália da direita contra a esquerda política, sem jamais querer considerar que nazismo aproxima-se mais da esquerda, que da direita, como sugere o próprio nome da doutrina: nacional SOCIALISMO. (Entenda melhor a questão ao ler meu livro “O dilema da lealdade dividida entre Nação e Estado e as dourinas sociais que governam o mundo”)
Religião, política, ciência, tecnologia, são todos elementos da psicossocialidade que formam o grande mosaico da existência humana, e esses elementos assumem forma material através de ideias, anotações e livros. Destruir quaisquer dessas partes é aniquilar parte da história humana e nos deixar mais incompletos e frágeis que já somos por natureza.
Quando os amigos de Don Quixote queimaram seus livros por julgar que deles provinha a loucura do cavaleiro sonhador, provavelmente esqueceram que os livros são subprodutos da mente e não a mente subprodutos deles. Entretanto, nesta simbiose, é maravilhoso perceber como livros mudaram mentalidades e seguirão mudando, pelo menos daqueles que a eles devotam atenção e reflexão.
Parece inegável que há décadas vimos humanizando coisas e coisificando humanos. Nesta relação perniciosa, o Mercado ou Indústria Mundial do Livro passou a tratar escritores como coisas e aos livros como mero produto mercadológico e não como alicerces culturais. Creio que esta é uma das principais razões pelas quais o governo brasileiro e outros se permitem pensar em tributar livros.
Precisamos urgentemente, como se estivéssemos numa campanha de economia de água para não morrermos de sede, voltar a valorar livros como formadores de culturas saudáveis e progressistas.
Necessitamos urgentemente reumanizar aos pais dos livros, os escritores, que estão sendo assassinados em série pelas culturas da imbecilidade de governos, editoras, distribuidores e livrarias. Governos passam, editoras, distribuidoras e livrarias podem falir, nós, os escritores, seguiremos aqui, existindo e movendo mundos.
Não perca o próximo capítulo desta série, quarta-feira, dia 02 de junho.
E em breve estreia a nova série: “CORRUPÇÃO DURANTE A PANDEMIA. VIDAS HUMANAS, O QUE ISTO IMPORTA?”
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