Direto de Brasília-DF.
Seja você budista, cristão, hinduísta, macumbeiro ou ateísta, hare krishna, xintoísta, ou islamita, há um fato que nenhum de nós pode negar. Entre os líderes, deuses e mestres em tais religiões, Jesus, o Cristo, tem lugar de destaque no panteão dos deuses. Ele está em um patamar acima até mesmo de Zeus.
Há uma parábola que Cristo gostava muito de usar para ensinar, porque parábolas eram figuras de linguagem de seu tempo. Ate hoje permitem esclarecer um fato complexo por meio de exemplos simples. Eu, particularmente, que sou um extremo admirador de Aristóteles e, ao mesmo tempo crítico ferrenho de seus defeitos, sem esquecer que meus defeitos são mais que os dele, lembro que o lema de Aristóteles era ensinar com profundidade e simplicidade. Por exemplo, quando quis ensinar o conceito de Cidade, disse que esta é um conjunto de cidadãos.
Busque uma definição nos livros ou na rede mundial de computadores e verá que os conceitos de Aristóteles são profundos e simples. Quando os filósofos clássicos gregos fizeram de tudo para complicar o conceito de Democracia; quando todos intentavam colocá-la no patamar de maior dádiva da razão humana, ele ensinou que a democracia é regime de governo em que os políticos agem como servos do povo. Disse, ainda, que ela é, apenas, dos males o menor. Ele não gostava de absolutos.
Com tais considerações vou voltar para Jesus, o Cristo, que é um dos três deuses dos cristãos(Deus pai, Deus filho, e Deus Espirito Santo), o que os aproxima mais do politeísmo que do monoteísmo judaico e islamita.
Bem, falemos do filho, Jesus Cristo, o cara que encarnou e cujo discípulo João (o evangelista) fez questão de dizer que “o verbo se fez carne”, como sinalização de separação do entendimento filosófico de Sócrates, Platão e seus conceitos reencarnatórios. O cristianismo, então, opta por distanciar-se do animismo determinista platônico para apostar no livre arbítrio.
Caminhando pelas ruas, em verdade, pelas estradas empoeiradas do Israel antigo, Cristo era sempre provocado, contrastado pelos sacerdotes e religiosos da época, que para os judeus eram as verdadeiras autoridades religiosas e políticas já que não aceitavam o domínio do Império Romano. Em uma dessas ocasiões foi provocado por um capcioso sacerdote, um cara que era Doutor na Lei, ou seja, sabia tudo sobre os cinco livros do antigo testamento(Pentateuco. Torá judaica) e Lucas, o evangelista e um de seus biógrafos, registrou em seu livro(capítulo 10:25-37) assim:
“E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?
E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;
E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;
E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.
Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.”
Cristo é reconhecido como um dos melhores pedagogos que o mundo já conheceu. Seus métodos de ensino faziam com que as figuras de linguagem, o discurso direto e indireto, metáforas, parábolas, e, acima de tudo, o exemplo, permitissem que suas Lições fossem compreendidas e admiradas por pessoas de todas as camadas sociais, inclusive pelas legiões de analfabetos que populavam as zonas miseravelmente pobres de Israel, inclusive a região da Galileia onde nascera.
A questão lançada pelo sacerdote sobre “quem é o meu próximo”, a parábola contada por Cristo envolvendo a vítima que foi agredida pelos bandidos que a roubaram e espancaram, deixando-a quase morta; o sacerdote altivo que viu o necessitado e passou ao largo, e o samaritano que era extremamente desprezado pelos judeus(samaritamos eram considerados traidores, apóstatas, negacionistas da fé judaica e, finalmente, um lixo de ser humano!), mas que foi quem demonstrou solidariedade e compaixão, fazem-me pensar que devo contentar-me desde já com o inferno como prêmio, já que não consigo fazer como ele fez.
Por exemplo, sempre que saio para fazer caminhadas ao ar livre deparo-me com uma senhora idosa, que há alguns dias está vivendo na frente de um edifício na Asa Sul. Ela colocou uma mala com alguns pertences sobre um banco de praça, umas sacolas e um plástico grande que usa para se cobrir, e ali está vivendo. Não estou falando de banco mercantil, mas daqueles bancos de praça. Ela está morando em frente a dezenas de apartamentos e diante de dezenas e centenas de olhares que a veem todos os dias, e nada fazem por ela, inclusive eu.
Faz tempo ajudo a algumas pessoas sem intenção alguma de divulgar ao público, com a consciência que não posso dar tudo que tenho porque como ensinou minha mãe, “quem dá tudo que tem a pedir vem”.
Fato é que todas as vezes que passo e vejo aquela senhora idosa morando em um banco de concreto, sinto-me um lixo como ser humano. Vejo as outras pessoas fazendo o mesmo, tomando atalhos para não serem confrontados com a falta de humanidade e compaixão que impedem alguns de ajudar.
Feita essas considerações, desejo refletir sobre a figura do Estado. Sim, esse tal Estado Democrático de Direito que foi inventado a partir do Século XVI e se fortalece cada vez mais em nossos dias. Penso que o Estado é de todos o pior dos “samaritanos”, porque arrecada o Imposto de Renda que retém na fonte mensalmente, arrecada o imposto que tantos pagam à Receita Federal, Estadual, Distrital e Municipal e, ao final, o distribui entre funcionários públicos e políticos corruptos, enquanto a Nação (o povo) segue sem amparo.
O Estado quis assumir o papel de provedor de todos. Aliás, Carl Schimitt, o pensador e sistematizador da Teologia Política diz que o Estado assumiu o papel de “Deus”, os cidadãos são seus fiéis, e as Constituições e demais leis que edita são seus “mandamentos”. Pensando assim, o Estado tem a obrigação de prover o mínimo de dignidade aos seus cidadãos, já que estes teem o dever de lhe “cultuar”. Mas, o que é este tal mínimo de dignidade?
Explico. O mínimo de dignidade devido pelo Estado a cada um de nós, a todos, inclusive àquela senhora idosa que vive em um banco de praça e a todos os sem tetos, sem empregos, sem alimento, e sem, sem, e sem… está colocado na Constituição Federal assim:
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. “
O Estado tem o dever de prover moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, comprar equipamentos hospitalares como tubos de oxigênio e manter leitos para os necessitados. Ao invés, as licitações seguem sendo superfaturadas, o dinheiro do povo segue sendo desviado para o bolso de políticos e alguns funcionários públicos parasitas e para aprofundar o caos, os políticos seguem sendo eleitos e reeleitos sob o manto da hipocrisia e de promessas vãs.
É de se perguntar: quem mente mais, a constituição federal ou os políticos que construíram seu texto e jamais o executam?
Dentre meus muitos defeitos, sinto-me um péssimo “samaritano” e talvez você também. Mas, o que dizer do Estado e dos políticos de direita, de esquerda, e de centro? Políticos e funcionários públicos corruptos alojados à esquerda, à direita e ao centro do corpo estatal que qual vírus letal infeccionam, replicam e espalham a desonestidade que gera miséria e pobreza; que roubam o teto, o emprego e a dignidade da Nação, do povo que trabalha com sol e chuva e que ao fim do dia torna-se parte das estatísticas de famintos, moradores de rua, pobres e miseráveis.
Essa nossa democracia FORMAL e de um Direito fabricado por homens maus está falida!
Quando o presidente Abraham Lincoln fez seu famoso discurso no cemitério de Gettysburg dizendo que Democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, quis crer na missão solidária e protetora do Estado. Mas, será que ela é mesmo o governo do povo, pelo povo e para o povo? Será que as Leis fabricadas nas casas legislativas são mesmo o que dizem, a expressão da Justiça? Como esperar que corruptos e desalmados que não têm a menor preocupação com a Nação (o povo) façam leis que o protejam? Quem está sendo mais tolo, o politico ou quem nele crê?
É triste perceber a cada dia que sempre há margem para piorar; que a dor infringida ao povo segue para um buraco cada vez mais profundo sem que haja piedade alguma, só a falsa compaixão renovada a cada ciclo de falácias políticas.
É sobre a hipocrisia, a falsidade do Estado, a falência da democracia formal e esse ciclo interminável de falácias(mentiras), que trato em meu novo livro “O DILEMA DA LEALDADE DIVIDIDA ENTRE NAÇÃO E ESTADO E AS DOUTRINAS SOCIAIS QUE GOVERNAM O MUNDO”, disponível na www.paralelo43.com.br e nas livrarias CULTURA, MARTINS FONTES PAULISTA, e TRAVESSA.
Feliz Páscoa, apesar do Estado em que vivemos e da falida Democracia Formal. Cuide-se bem porque este Estado ao qual servimos, é um mau samaritano!