DR PAULA MEYER

A EMPRESA PETROBRAS EM NÚMEROS E A RECENTE INTERVENÇÃO

Helena Barbosa Santos

Paula Meyer Soares

 

Recentemente a mídia criticou veemente a intervenção do governo ao tornar público que o comando da empresa Petrobras iria ser liderado por outra pessoa. Antes de mergulharmos na situação de “intervenção”, peço licença para discorrer um pouco sobre a ascensão da indústria petrolífera no Brasil.

A descoberta de petróleo no Brasil data do final do século XIX, mais precisamente em 1939 em Salvador. A descoberta criou um frisson pois sabíamos que aquela “lama preta” iria ter uso econômico. Em 1939, criou-se o Conselho Nacional de Petróleo que instituía que as jazidas descobertas pertenciam a União, de modo a assegurar a titularidade dessa riqueza.

Na verdade, o setor energético tornou-se estratégico para o Estado e importante fonte de renda e de arrecadação de tributos. A polêmica em torno da criação da indústria petrolífera no Brasil, teve direito a brigas e divisões internas no governo durante muito tempo. Durante o governo Dutra, em 1947, criou-se o “Estatuto do Petróleo” que visava a flexibilização das formas de exploração de petróleo em prol da iniciativa privada ou melhor dizendo estrangeira. Diante da ameaça de “invasão” estrangeira e seu aparato tecnológico, lança-se uma Campanha Nacional do Petróleo e é a partir desse movimento que a Petrobras foi criada em 1953.

A Petrobras é uma empresa de economia mista (sob controle da União) e atua nos segmentos de exploração e produção de óleo e gás, refino, comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, geração de energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.

A partir dos anos 2000 o Brasil descobriu uma gigantesca área inexplorada de petróleo – o Pré-sal. A produção da Petrobras triplicou após a descoberta dessa área, passando dos 500 mil barris /dia em 2014 para 1,5 milhão barris/dia em 2018. A área do Pré-sal cobre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A Petrobras é a principal operadora desses campos de petróleo, significa dizer que em toda licitação de petróleo, ela é a empresa eleita para comandar e coordenar as atividades de extração juntamente com o consorcio ganhador desse pleito.

Em 2020, os campos operados pela Petrobras (em consórcio ou não) foram responsáveis por 93,7% da produção de petróleo e gás natural do Brasil, totalizando o robusto valor de 2,57 milhões de barris por dia de petróleo (ANP, 2020).

Num ano marcado pela pandemia da Covid-19, a qual provocou uma queda na demanda global por combustíveis, foi possível obter uma trajetória positiva nos lucros da estatal. No quarto trimestre de 2020, alcançou-se o lucro líquido de R$ 59,9 bilhões, fechando o ano com um lucro líquido de R$ 7,1 bilhões (Petrobras, 2021). Desta forma, a Petrobras não somente conseguiu suprir os interesses dos acionistas, como também apresentou uma rápida resposta para a crise global da indústria do petróleo, abrindo caminhos para mais inovações e tecnologias condizentes com as projeções positivas para a produção brasileira de petróleo e gás nas próximas décadas.

A recente intervenção foi fortemente criticada, ao ler e entender o papel exercido pela empresa no setor petrolífero nacional e internacional entende-se que a Petrobras não pode resvalar um milímetro sequer. Uma empresa reconhecida internacionalmente deve zelar e ficar sempre atenta aos seus resultados financeiros e de produção. Uma vez que o Estado é o acionista majoritário, reajustes nos valores dos combustíveis afetam diretamente a política econômica desse acionista. A intervenção não deveria causar espanto. Outrora, o comando da Petrobras fora mudado sem a comoção gerada recentemente com o anúncio de mais uma troca. O Brasil possui um sólido mercado de valores mobiliário, com instituições fortes e transparentes e que estão atentas aos movimentos do mercado.

Deixemos que o futuro e o mercado conduzam os próximos capítulos da estória da Petrobras ainda que os atores principais e coadjuvantes sejam outros. Lembrem-se da célebre frase de John Maynard Keynes:.”… no longo prazo estaremos todos mortos “ , vamos resolver os problemas do presente para que exista um no longo prazo.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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