DR PAULA MEYER

A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA E O ANUNCIO DA SAÍDA DA FORD DO PAÍS

Foi com perplexidade que essa semana foi anunciada o fechamento das fabricas de automóveis da marca Ford. A montadora mantinha fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e em Horizonte (CE), para jipes da marca Troller.

Apesar da queda na produção em 2020 de 31,6% em decorrência da pandemia, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) projeta uma recuperação de 25% em 2021.

O encerramento das atividades da quinta maior concessionaria de automóveis em vendas no país, responsável por 7,14% da fatia de mercado interno continuará comercializando no país. A estratégia da empresa Ford é deslocar a produção para outros países e passar a suprir o mercado interno por meio da importação.

Em entrevista coletiva, o presidente da Ford afirmou que a decisão trata-se de uma estratégia da empresa dentro de um contexto de mercado global.

Os utilitários serão importados da Argentina e do Uruguai. A Ford disse ainda que todos os clientes seguirão com assistência de manutenção e garantia.

Dentre as instalações atuais, será mantido o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, além do campo de provas e da sede administrativa para a América do Sul, ambos no estado de São Paulo. Serão dispensados 5.000 trabalhadores das unidades que serão desativadas no país atingindo de forma direta cerca de 20.000 pessoas.

De acordo com os dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a variação acumulada em 2020 do setor produtor de bens de duráveis na qual insere-se o setor automobilístico recuou em -22% comparado com 2019. Apesar da expansão da geração de empregos na indústria de transformação na qual pertence o setor automobilístico, o cenário não se mantem no segmento de montadoras e de peças.

O avanço da concorrência com a entrada de montadoras a partir dos anos 90. A inserção de novas rotinas produtivas na cadeia automobilística pressionou empresas a manterem um fluxo de investimentos continuo e crescente.

A empresa Ford chegou ao Brasil no século passado e vivenciou vários momentos críticos e áureos do setor automobilístico.

Diante do exposto, é crucial que façamos uma reflexão sobre a atual política industrial brasileira direcionada a setores influentes como o automobilístico e de que maneira o país pode reverter a tendência de queda de industrialização do país que desde os anos 2000 tem sido presenciada.

O encolhimento do setor industrial é nítido no decorrer dos últimos anos e a saída da empresa Ford do Brasil com a migração de sua produção para o país vizinho nos remete a questionamentos acerca da condução da política industrial brasileira.

O Brasil nos anos 60 foi o celeiro da indústria automobilística. Várias montadoras estrangeiras montaram suas filiais no Brasil onde o modal automobilístico se expandia a olho nu. O Presidente JK incentivou e abriu as portas para a entrada das montadoras estrangeiras no país. O brasileiro aderiu rapidamente ao conforto dos utilitários e expandimos a produção local. Nos anos 90, o então recém empossado Presidente, Fernando Collor de Melo, promoveu a maior e mais rápida abertura comercial no páis. O setor automobilítico viu-se em uma situação de incremento da concorrência com a entrada facilitada de novas montadoras. O jargão cunhado pelo Presidente da República justificando a abertura rápida no setor automobilístico ficou na memória de todos pois éramos um pais onde nossos carros eram “carroças”.

Daí em diante observou-se um aumento na concorrência do setor e o brasileiro saiu ganhando usufruindo de utilitários mais modernos e potentes do que os ofertados antes da abertura comercial.

O setor automobilístico passou por vários episódios nacionais de alta e de baixa capitaneados pelos movimentos da política nacional industrial. Apesar de alguns desses episódios terem sidos contornados com a isenção fiscal, concessão de subsídios etc. a saída da empresa Ford no Brasil é preocupante.

Não sabemos se outras montadoras irão seguir o mesmo caminho. É importante que o Governo fique atento aos próximos movimentos e não deixe que as sementes da desindustrialização continuem a florescer em solo brasileiro.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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