Direto de Brasília-DF.
Há muitas maneiras de negar algo ou alguém. Negamos quando afirmamos que algo ou alguém não existe, quando afirmamos que não é verdadeiro, quando contestamos, ou contradizemos sua existência, ou valor.
A ciência é o conjunto de saberes que o ser humano produz ou absorve sobre si e o meio ambiente no qual vive, sempre através de seu cérebro racional.
Esse conjunto de saberes, inicialmente não foi tido como ameaça porque era ferramenta que auxiliava a prover abrigo contra as intempéries da natureza, alimento, e proteção contra outros predadores.
Pouco a pouco o homem começou a prestar atenção ao cosmo e por se sentir pequeno diante da vastidão do universo e por outras razões até hoje desconhecidas, criou deuses a partir de coisas, pessoas e objetos. Foi assim com rios, lua, sol, natureza, animais, ora, inclusive, mesclando homens e animais. Como não bastava criar tais deuses o conhecimento foi aplicado para sistematizar a crença, por meio de dogmas. Do mito à lenda, da lenda aos deuses e destes passou-se à subjugação do homem a suas ideais abstratas.
Esse sistema de crenças gradualmente se transformou em dogmas, ou seja, verdades que não admitiam contestação. Negá-las implica até hoje em exclusão da comunidade, excomunhão do sistema de crenças e, até mesmo na morte do “descrente”.
Não há registro confiável sobre datas do passado longínquo que possa delimitar com precisão o surgimento do pensamento crítico e lógico. Afinal, 3,000 anos a.C., no Egito, já existiam escolas com currículo oficial definido e com algum pensamento minimamente crítico e matematicamente lógico. Como ignorar tal verdade diante de construções antigas, como as pirâmides, por exemplo?!?
Mas, há uma espécie de consenso entre os estudiosos que apontam para a sistematização científica, por volta do século V a. C., na Grécia, especialmente com o filósofo Tales, da cidade de Mileto. Ele classificou o conhecimento como tridimensional, observável a partir da “Lei de Deus”, a “Lei da Natureza”, e “Lei do Homem”.
A primeira dessas leis teve e tem aceite para a maioria das pessoas do mundo como a lei das leis, sobre a qual nenhuma outra pode se sobrepor ou antepor. A segunda lei adviria de fenômenos físicos e químicos, como por exemplo, o cair das folhas de uma árvore, em razão da falta de recepção de suficiente seiva para se manter nos galhos. Por fim, a lei dos homens, oriunda de sua capacidade de raciocínio.
Tales abriria a porta para que menos de 200 anos após ele, Sócrates, Platão, mas, sobretudo Aristóteles, o pai de muitas das ciências que conhecemos no mundo de hoje, pudesse aperfeiçoar com extrema propriedade e profundidade o método crítico e lógico, sobretudo baseado na terceira lei de Tales, ou seja, na lei da razão.
Foi assim que o antropocentrismo surgiu. Para Aristóteles o homem é seu cérebro racional e como tal, deve aprender a identificar o objeto do conhecimento, deve classificá-lo, analisar as causas das causas, e, por fim, aplicar tal ciência sobre todos os corpos terrestres e celestes.
O pensamento aristotélico sofreu muitos revezes, mas se espraiou por escolas, livros e tornou possível a existência da Inteligência Artificial, da Internet e de muito mais que virá nos próximos séculos e milênios. Afinal, a identificação, a classificação, a análise, e a aplicação do conhecimento objetivo constituem os fundamentos da ciência moderna.
Lamentável que em pleno século XXI o ser humano continue servindo a seus dogmas em detrimento da ciência. Afinal, você não mede o grau de desenvolvimento de um povo por quão religioso ele é, mas por critérios científicos tais como o crescimento populacional, renda, e nível educacional.
Para dogmáticos, a ciência é a negação de Deus. Para todos os religiosos do mundo é aceitável que religião negue ciência, mas inaceitável que ciência negue religião. Neste contexto, o ser humano resigna-se a voltar à idade das cavernas, tanto quanto morre de medo que o futuro aniquile seus deuses e crenças pessoais.
Particularmente, não creio que uma e outra coisa deva necessariamente se excluir, mas negar a ciência é negar a dimensão superior que nos coloca no topo da evolução. Afinal, “habemus cerebri”…