#JABOATÃODOSGUARARAPESÉFOCO DR JUDIVAN VIEIRA

DIÁRIO DE BORDO. ANO 2020. DIRETO DE UMA ESCOLA DA CIDADE DE TAGUATINGA-DF/BRASIL. PLANETA TERRA TOMADO PELA PANDEMIA DA COVID-19. A DIRETORA ESCOLAR ANDREIA BOMBOM FERREIRA: REGISTRO DE BORDO-1

Direto da cidade de Taguatinga-DF.

 

Segunda-feira dia 12 de outubro de 2020

Segundo a nova normalidade estabelecida pela COVID-19, desde o dia 12 de março, ainda me encontro sem saber ao certo onde estão todos os alunos. Com o formato remoto, isso é impossível. Tenho relatos de alunos fora do Distrito Federal. Muitos pais nos mais diversos motivos foram embora e/ou mandaram seus filhos para outros estados. Ora para cuidar, acompanhar um parente, ora ainda para ficar com familiares, enquanto os pais aqui enfrentam como podem a crise financeira, pois não têm onde deixar os filhos, sendo que precisam trabalhar.

Escola vazia, sirene desligada e alguns alunos que não tenho notícias e não vejo a um bom tempo.

Observo que as atividades impressas para alunos “off-line” aumentaram do primeiro para o segundo bimestre, motivados pela falta de pacote de dados para assistirem às aulas pela Plataforma da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Os alunos migram para atividades impressas, no que lamento, pois em formato “on-line”, alguns contatos são estabelecidos, podemos saber onde se encontram, se estão relativamente bem, preocupações com a saúde, principalmente mental, essas informações amenizam ou nos fazem acionar as redes de proteção à criança e ao adolescente.

Hoje peço ao secretário escolar que envie uma nova planilha aos professores, para identificar novos acessos à plataforma, a quantidade de alunos para fazermos novas buscas ativas (visitas, telefonemas, mensagens via WhatsApp ou Instagram, chamadas no Facebook).

Se nosso único contato com o aluno que não tem como participar das aulas “on-line” é por meio das atividades impressas, a melhor maneira é trazê-lo para um material impresso incrível que os traga mais perto do ensino que é ofertado na plataforma digital, um caderno ousado, atrativo e que consiga avaliá-lo.

Como disse o filósofo pedagogista John Dewey “A educação não é preparação para a vida, a educação é a própria vida.” Nisto não podemos deixar projetos morrerem por obstáculos que aparecem no caminho, ou dificuldades de possíveis resoluções.

O vice-diretor pensou em outros materiais de apoio como lápis, borracha e caneta, mimos para os estudantes acompanharem o caderno de atividades.

O coordenador trouxe o novo formato, eliminando folhas avulsas, todas as disciplinas num só caderno, com maior prazo de entrega e pesquisa em seus livros didáticos, visando melhores resultados.

A intenção é tirar a ideia de que o ano letivo de 2020 está perdido, evitando a evasão escolar e/ou a repetência. Nenhum aluno a menos. Este é o desafio.

Hoje 12 de outubro é dia das crianças no Brasil, e o melhor que poderíamos dar a elas seria a dignidade da educação pública de qualidade, dever do estado e obrigação de todos.

Terça-Feira, 13/10/2020

Bem cedo no Centro de Ensino Fundamental 17 de Taguatinga-DF, antes que eu chegue à escola, um número de profissionais já estão trabalhando ou até mesmo já trocaram seu turno. Percebo que ainda estamos em um grande número de pessoas na escola, 8 em limpeza, 1 merendeira, pois a outra é do grupo de risco, fica à disposição da empresa, os secretários, uma escala de agentes de portaria, o administrativo, eu, e o vice-diretor.

Precisamos trabalhar por escala presencial de trabalho para tentarmos reduzir o risco de contaminação. No entanto, a escala não será possível para a direção escolar, muitas demandas e um grupo enorme de alunos, professores, orientadores, pais e funcionários por administrar a distância.

Os deixados para trás, nome dado a equipe que ficou trabalhando presencialmente na escola, às vezes estão emocionalmente mexidos, calados, com certa tristeza. Faz falta a energia juvenil, o barulho de alunos na quadra, o transitar nos corredores, as mudanças de horários de uma aula para outra, a alegria do intervalo. Uma escola sem nossa gente é triste. Pausa para conversas sobre a vida deles e umas risadas para quebrar o clima de introspecção. Hoje conto a eles o significado do apelido da equipe que ficou na escola: “Deixados para trás” faz referência ao filme, de mesmo nome/título em 2000, filme de Vic Sarin com Kirk Cameron. Após um evento mundial, pessoas desaparecem misteriosamente. Um piloto e uma jornalista buscam respostas para o ocorrido. Vixi! Não gostaram da comparação. Risos…

Percebo que se faz tarde, preciso responder e-mails, acessar processos no sistema operacional da Secretaria de Educação, preparar a coordenação coletiva com os professores que acontecerá amanhã.

Eita! Pauta pesada! Análise das planilhas pós conselho de classe, e estudos das novas ferramentas do “Google Classroom”. Mesmo sendo terça-feira, “feriado” antecipado do dia dos professores, estamos preparando reuniões e postagens em diversas plataformas digitais, com avisos para alunos e seus responsáveis.

Lição do dia: uma escola vive da ação colaborativa de todos os setores. Da portaria às salas de aula, um só objetivo. Assim se justifica comunidade escolar: pais, alunos, funcionários e professores, em prol do sucesso escolar dos estudantes. Parafraseando Érico Veríssimo, a vida começa todos os dias.

Quarta-feira, 14/10/2020

Mais um dia está por começar e desde 12 de março o mundo passa por expectativas de solução, resposta para a cura de um vírus tão letal quanto a Covid-19 que no Brasil, nesta data já matou mais de 150 000 pessoas. É mais uma quarta-feira e na educação pública do Distrito Federal, hoje é dia de coordenação pedagógica coletiva. Daqui a pouco iremos nos encontrar: professores, coordenadores, secretários, e o pessoal do administrativo, em uma plataforma unificada de reuniões.

Especialmente nessa semana teremos uma pauta única para os dois turnos. As planilhas criadas para o acompanhamento dos discentes, mostram-nos uma queda no acesso à plataforma de ensino digital, um número grande de alunos migrando das atividades “on-line” para atividades impressas. Preocupante!

Os alunos e suas famílias passam a ter outras dificuldades além do mecanismo utilizado para assistirem às aulas. Seus aparelhos de celulares e computadores começam a precisar de manutenção e assistência técnica, estressa por estarem muitas horas em frentes às máquinas, lidar sozinhos com a responsabilidade de estudar, muitas vezes sem a presença dos pais e o desinteresse causado pelos muitos meses sem contato presencial com escola e professores.

As buscas ativas revelam um número expressivo de estudantes que ainda não foram encontrados nem por telefone, nem em seus endereços residenciais; relatos de alunos que suas famílias tiveram que retornar às suas terras natais, muitos pais perderam seus empregos ou tiveram que ajudar familiares em outros estados, muitos estudantes e seus irmãos passaram aos cuidados de parentes para que os pais pudessem trabalhar.

Na coordenação, um professor relatou como fez para encontrar alguns estudantes que estavam até hoje sem acesso aos novos mecanismos de ensino — aprendizagem e que levou três horas para o convencimento de uns alunos do nono ano do retorno às atividades “on-line”, evitando mais uma evasão escolar, impediu que o aluno perdesse o último ano do ensino fundamental. Três horas, depois de várias buscas nas redes sociais para encontrá-lo, diante do desânimo, o professor disse ao aluno: — Não faça isso. O ano não está perdido. Horas de conversa para salvar um aluno. Fico emocionada. Essa atitude me diz ser preciso fazer um pouco mais, não se dar ao cansaço.

Outras estratégias foram lançadas para o bimestre, acrescentamos um caderno de atividades e um novo bloco de avaliações, conhecemos o novo projeto, uma revista eletrônica atenderá os estudantes durante uma semana com artistas, entretenimento, desafios, “lives”, entrevistas, muita diversão para quebrar a rotina e eu aqui pensando em quanto tempo para resgatar um único aluno.

Esforço, carisma, empatia e fé.

 

Amanhã, o último capítulo da série. Não perca!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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