Direto de Taguatinga-DF.
Kátia Pereira da Silva / Supervisora Pedagógica do
Meu nome é Kátia Pereira da Silva, sou professora de francês e trabalho na rede pública do DF, nos Centros Interescolares de Línguas (CILS) desde 2003. Sempre dei aula, mas trabalhei como coordenadora de 2017, a setembro de 2019 quando recebi do diretor da escola o convite para substituir a vice-diretora que entrara em licença maternidade. Em 11 de abril de 2020 houve a suspensão das aulas e na escola só ficamos a equipe diretiva: diretor, vice-diretor e supervisores; os professores ficaram em casa até 5 de junho, quando o Secretário de Educação convocou todos os servidores para retomarem o teletrabalho.
Tivemos duas semanas de preparação, momentos de angústia e muita incerteza sobre tudo, como seriam as aulas, como os alunos acessariam, enfim… visto a tamanha dificuldade, seja no psicológico quanto nos conhecimentos tecnológicos, o governo decidiu dar mais 15 dias de preparo aos professores e aos alunos que não tinham meios de acessar as aulas.
Em 13 de julho de 2020 retomamos o primeiro semestre escolar, ainda em meio a muita dúvida e com circulares e decretos que circulavam primeiramente no grupo de WhatsApp de professores, nunca chegava à equipe diretiva, isso gerou muito desconforto, pois éramos confrontados com informações que ainda não tinham chegado pelos canais oficiais de comunicação com a escola. Nesse meio tempo, a vice-diretora retomou as suas atividades e fui convidada para continuar o trabalho dessa vez como Supervisora Pedagógica.
Quarta-feira 2/9/2020.
O dia começou bem cedo. Às 07h30 enviei lembrete aos professores regentes no período vespertino lembrando da reunião virtual às 10h para repassarmos informações importantes sobre o decorrer do semestre. Tomei meu café e fui finalizar o “PowerPoint” com a apresentação a ser feita. Reunião tranquila, mas os professores angustiados com o tempo curto para cumprir conteúdo, realizar avaliações e finalizar diários para encerrar o semestre. Apresentamos datas finais, um projeto de monitoria “on-line” e falamos sobre a formatura que será uma transmissão via YouTube no dia 24/09.
Logo que a reunião terminou, uma mãe de aluno ligou no meu celular para saber de tarefas impressas na escola. Ontem usei o telefone fixo e o meu celular para ligar para alunos que acessam a plataforma e não realizam atividades: a maioria dos pais diz que estão fazendo tudo e não tem ciência da não realização das atividades. Sinto que minha vida privada, minha casa já foi invadida pelo meu trabalho.
Às 14h iniciamos a mesma reunião para os professores com regência no vespertino, a angústia é a mesma: alunos que não entregam tarefas, dificuldades em envolve-los em tarefas e no aprendizado efetivo.
O Pilates que estava marcado às 16h tive que cancelar… sem disposição.
Às 17h participei de uma formação “Meet” para os Centros Interescolares do DF sobre “Avaliação em Tempos de Pandemia”, finalizei às 18h40, tomei um banho rápido e agora às 19h37 estou na quarta videoconferência com a Associação de Professores do Distrito Federal, tratando do nosso calendário virtual do segundo semestre.
A minha intenção era de ligar agora à noite para pais de alunos que não estão realizando atividades na plataforma, mas estou bem cansada. Saindo deste “Meet” vou ligar para minha mãe, temos também a vida pessoal em meio a isso tudo, infelizmente faz uma semana que ela desmaiou na cozinha, fraturou uma vértebra e está de repouso total numa cama por 15 dias…
Quinta-feira 3/9/2020.
Hoje foi dia de enviar e-mails a professores solicitando a preparação de atividades impressas para alunos que não acessam a “internet”. Alguns enviam rápido, outros enviam na véspera e outros se recusam a fazer alegando que a escola deve cuidar dessa parte.
A escola está fechada, não recebemos alunos, mas os pais vêm solicitar uma informação ou outra. Hoje um pai queria atividades impressas, disse que além das atividades da plataforma, ele quer receber material extra para a filha. Expliquei que não é o ideal, que estamos todos em casa para nossa proteção e que o material que imprimimos na escola é exatamente igual ao que eles acessam na sala virtual.
À tarde fui para o Pilates e depois preparei uma aula particular que aconteceu agora à noite. Hoje o dia foi mais tranquilo, aproveitei para ligar para minha mãe e ver como ela estava. Graças a Deus, tudo vai se encaminhando. Eu comento sempre que a meta do ano é sobreviver e a meta do momento é não adoecer. E assim vamos indo…
Sexta-feira 4/9/2020.
Hoje, sexta-feira, fui para a escola pela manhã para escanear atividades impressas entregues pelos alunos na escola. Chamei uma professora que está no grupo de apoio para me ajudar. Estão todos em casa nesse momento, então o trabalho presencial está todo com a Equipe Diretiva, o que sobrecarrega demais os 6 profissionais encarregados dessa tarefa. Somos uma escola com seis mil alunos, cerca de 145 servidores e tudo precisa ser transformado para o “virtual” nesse momento, tudo através de um computador: secretaria, biblioteca, monitoria, formatura, reuniões, etc.
Às 10h nos reunimos, direção, supervisão e coordenadoras para repassarmos as demandas semanais e alinhar ações para a próxima semana. As Coordenadoras, sempre fazendo um trabalho de excelência, ressaltam a boa vontade dos professores, mas se queixam das dificuldades que muitos têm em lidar com tecnologias, o que provoca angústia, esgotamento e muitas queixas sobre o trabalho remoto.
Na sexta-feira à tarde tiro o momento para dar uma geral na casa e descansar um pouco. Normalmente iria a um parque ou ao “shopping”, mas em tempos de pandemia o ideal é pensar em um programa caseiro. No fim da noite checo o e-mail da Associação de Professores de Francês do DF para verificar se tem mensagens importantes a encaminhar ao grupo, em tempos de pandemia acontecem muitas videoconferências interessantes pelo mundo todo e uma das nossas missões é manter o grupo sempre informado sobre formações na área. Vou dormir bem tarde, mas fim de semana quero me desconectar.
Amanhã, o final dos registros de bordo!