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DO ASSASSINATO DA ESCRITA AO ENTERRO DA LEITURA. A SÉRIE DIÁRIO DE BORDO PEDE REFLEXÃO!

Direto de Brasília-DF.

Vou iniciar esta reflexão com uma homenagem ao poeta brasileiro, Eduardo Alves da Costa, autor do poema “No caminho com Maiakovski”,  todavia, procurando ofertar uma nova interpretação, que vá além dos tradicionais clichês que foram agregados a esta obra de arte, pela esquerda e pela direita política. Eis o lindo poema:

“Primeiro, eles vêm à noite, com passo furtivo, arrancam uma flor, e não dizemos nada.

No dia seguinte, já não tomam precauções: entram no nosso jardim, pisam nossas flores,

matam nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais débil dentre eles, entra sozinho em nossa casa,

rouba nossa luz, arranca a voz de nossa garganta, e já não podemos dizer nada.

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia ninguém para reclamar.”

O poema retrata a clarividência na alma do poeta, assombrada por toda e qualquer espécie de arbitrariedade que deságua em intolerâncias variadas. Há intolerâncias com pessoas, coisas e ideias.
Minha alma assombrada com o lento e despercebido assassinato da leitura, causado pela onda avassaladora dos vídeos, leva-me ao apelo à reflexão, que faço por meio da série DIÁRIO DE BORDO, que idealizei, e cuja direção executiva e artística me dá tanto prazer e satisfação, com uma leve pitada de sorte por haver escolhido protagonistas tão cooperativas.
Em 2018 eu e minha esposa participamos de uma “feira” do FACEBOOK/INSTAGRAM, no Centro de Convenções em Brasília-DF. Os especialistas da multinacional foram unânimes em dizer que pesquisas  realizadas com bilhões de assinantes das redes deles, atestam que mais de oitenta por cento das pessoas não querem mais ler. Adquiriram uma espécie de preguiça crônica com a leitura.
Disseram à audiência que as redes sociais (como o antigo ORKUT) começaram com textos, mas as pessoas gradualmente foram se cansando de leitura. Para suavizar entrou em cena o Twitter com a limitação de 140 e depois 250 caracteres.
Muitas pessoas pensam que a estratégia é a de desenvolver a concisão de pensamento. Não é! A ideia por trás é ser útil ao movimento de quem tem preguiça de ler conteúdos elaborados, conciliando nisto, também, o fato de estimular a comunicação com frases e ideias curtas de quem mal sabe escrever. Claro que isto não significa que não haja linguagem e comunicação! A questão, todavia, é mais profunda que simplesmente o de emitir “grunhidos”.
A era dos vídeos é, hoje, a pá de cal que o “coveiro do tempo” lançou sobre a escrita. Em seguida, mandou baixarmos o caixão á tumba fria do esquecimento.
Qual o resultado de uma sociedade que não lê? O escritor brasileiro Monteiro Lobato, que não deve demorar muito para ser, ainda mais execrado pelos “eugenistas dos eugenistas”, lá pela metade do século XX disse que “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê!”
Pode parecer fora de contexto, mas preciso te dizer que a toxoplasmose causada por um parasita protozoário, é uma doença seríssima que pode levar alguém à cegueira e ao enfraquecimento do coração, transmitida por fezes de gatos, cães, consumo de alimentos crus e mal higienizados como carne crua ou mal cozida, que estejam contaminadas.
Nesse contexto em que pretendo fazer uma analogia penso que se Lobato disse que, quem mal lê sofre de surdez, é quase um mudo, e no campo da visão possui uma espécie de toxoplasmose a cegá-lo, que posso eu dizer sobre a reflexão de Monteiro Lobato, quase cem anos depois?
Creio que quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê,  e que decretou para si, a morte do raciocínio crítico e lógico! Pessoas assim reclamam muito dos insucessos pessoais e têm acentuado rancor do sucesso alheio. Sabe o porquê? Porque além elas esquecem que a vida da mesma forma que premia os diligentes, castiga os negligentes!
Inegavelmente, os vídeos são mais fáceis para assistir. Meu dentista, Dr. Bruno Bitar, outro dia disse-me: “Antes, se alguém  queria uma receita de qualquer coisa abria um texto e lia. Hoje, há um video para tudo”. Nem ele, nem eu, estávamos a criticar a evolução. Nosso bate-papo, apenas enfatizava que o ilusionismo trabalha com a facilidade com a qual o sentido da visão pode ser enganado. O que vemos nem sempre é o que é!
Aliás, o poeta inglês John Mílton, em seu livro “Paraíso Perdido” diz que o que parece não é. Quando tempos atrás eu investia na carreira de cantor de banda de pop  rock, escrevi uma música (Sinais de Fumaça) em que parafraseando John Milton, digo que “a essência do que parece é o não ser”, pois se uma coisa parece é exatamente porque não é. Se fosse, não pareceria!
Pois, bem! A era dos vídeos, que nos coloca na posição externa e passiva, de quem assiste sem se envolver no processo de construção como ocorre com a leitura e a escrita, em breve dará um passo à frente, tão logo popularizem e barateiem os “games” em que todos entramos no virtual, em que nosso avatar interage com avatares imaginários. De aí em diante o que ocorrerá com nossa capacidade de raciocinar, e racionalizar a realidade física, e que é tão diferente desse imaginário que estamos criando, talvez até mesmo para fugir de nós mesmos e da realidade da qual não gostamos?
O que teremos feito com nossa capacidade critica e lógica? Os gregos antigos se tornaram a civilização mais emblemática de todas porque entenderam que ler, escrever, e refletir projeta o humano a uma dimensão superior, à dimensão da razão.
Em meu ciclo de palestras voluntárias nas escolas públicas do Distrito Federal, já havendo falado para mais de 15,000 alunos,  venho repetindo que a maior revolução em nossas vidas ocorre quando aprendemos a ler e a escrever. Lamentável que pouco tempo depois estas duas atividades passem a ser detestadas pelos alunos. E olha que são esses mesmos alunos que se tornam a geração de pais, mães, profissionais e governantes que pretendem doutrinar a Nação, e dirigir o Estado.
Para atestar rapidamente o que estou dizendo basta você perguntar a um Professor sobre a raiva que os alunos sentem quando são cobrados para ler um livro, ou escrever uma redação. Há até profissionais da educação e ensino que odeiam ler. Esse ciclo de assassinato da escrita e de enterro da leitura, não favorece o desenvolvimento nem individual, nem coletivo!
Outro dia assistia ao filme sobre a história real do psicopata Jeffrey Dahmer(Como nasce um assassino), que aterrorizou os Estados Unidos no fim da década de 70 e 80. Em seu período escolar ele descreve professores dormindo em sala e passando atividades de leituras, não para o desenvolvimento dos alunos, mas apenas para se desincumbir das horas nas quais deveriam investir amando seus alunos e traçando trilhas para o futuro dos que desejavam crescer.
Gradualmente as civilizações e gerações posteriores aos gregos antigos assassinaram a leitura e sepultaram a escrita. Hoje, essa preguiça generalizada com os livros, com a leitura e a escrita, criou uma legião de analfabetos funcionais, independente da quantidade de diplomas que possuem. Observem que os textos literários, jurídicos, jornalísticos, etc., são carregados de ideologismo e destituídos de qualidade de ideias e de linguística. No site da Real Academia Espanhola(rae.es) essas pessoas são chamadas de “burros carregados de letras”.
Com a série DIÁRIO DE BORDO sei que estou remando contra a corrente ao apelar para que leiam. Seja como for sigo guiado pela firme convicção que esperar que as coisas sejam perfeitas é esperar para sempre. Eis porque não tiro o foco do alvo, há muito definido pelo esforço para enfatizar a ética com o dinheiro público e minimizar a corrupção, para reduzir a discriminação e aumentar o respeito pelas diferenças, e para potencializar a ideia que a educação e o ensino salvam, quem desejar ser salvo.
Amanhã e até quinta-feira, publico o DIÁRIO DE BORDO da segunda protagonista da série. Espero que leia e reflita. O espaço entre uma publicação e outra, deixo propositalmente para que possamos refletir sobre o “reset”que a pandemia deu no processo de educação e ensino. As perspectivas são sempre individuais, mas o somatório delas pode apontar caminhos para o progresso de todos.
Quem tiver olhos para ver, que veja!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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