DR JUDIVAN VIEIRA

O PROCESSO DE EDUCAÇÃO E ENSINO NA IDADE MODERNA: Inglaterra, o leão anfíbio! (parte 2)

Direto de Brasília-DF.

O escritor David S. Landes, em seu livro “Riqueza e pobreza das Nações”, diz que a partir do século XIII, a Inglaterra torna-se o leão dos mares. Sua marinha de guerra e mercante, eficiente e eficaz, deu o tom do domínio dos mares, sem que se saiba ao certo se tal sucesso foi ou não por haver “furtado” com êxito, as cartas náuticas portuguesas.

Fato é que esse leão anfíbio, alimentou-se da história e descansou por períodos, mas desde aquele século, seus despertamentos iriam produzir algumas espécies de revoluções no processo de educação e ensino do mundo.

Já um pouco antes, o rei Alfredo, o Grande, prestou um grande serviço ao processo educacional e de ensino, aprendendo a ler e escrever e exigindo que os funcionários da corte também o fizessem.

Entre os séculos VI e VIII, Alfredo, que governou até 899,  também havia encarregado os bispos como responsáveis pela coordenação da educação e ensino dos alunos da rede escolar monástica e catedralícia. Este sistema ajudava a diminuir a ignorância e o analfabetismo em meninos, já que o machismo impedia meninas de frequentarem escola.

Durante todo o século X (anos 900), o sistema, apesar de frágil, foi mantido e ajudou a salvar alguns poucos do analfabetismo. No século XI, a invasão dos povos normandos, território compreendido na atual França, foi devastadora para a Inglaterra, por várias razões. Primeiro, porque o idioma do conquistador foi imposto. Falava-se francês e latim.

Segundo porque a Inglaterra tornou-se súdita da França, que os tinha por povos rudes e ignorantes. Neste contexto, o idioma inglês tornou-se desprezível. É possível que as rusgas entre franceses e ingleses, até hoje, decorram de fatos como a invasão os normandos e do desprezo que tinham pela Britânia.

A educação que sobrou nas escolas dos mosteiros era específica para aqueles que se dedicavam ao próprio mosteiro. Estes eram chamados, “oblato”. Algo parecido com a educação oferecida modernamente em seminários e faculdades católicas e protestantes, frequentados em quase sua totalidade por quem deseja aprender Teologia, para seguir a carreira sacerdotal.

Nessas escolas monásticas, aprendia-se com Francês e Latim, porque dele precisavam para o canto litúrgico(trabalhos religiosos). A escola também ensinava gramática porque a estrutura da língua não poderia dispensar suas regras de formação.

Ao acaso, um fato histórico ajudaria a Inglaterra. O país passou a ter escolas sempre ao redor de monastérios e não nos centros urbanos. Foi assim que o processo educacional e de ensino voltou a engatinhar e dar os primeiros passos na direção do amadurecimento.

A sede episcopal, ou seja,  onde ficava o bispo, seria sempre no local da igreja monástica principal. Era ali que as escolas eram construídas sob o olhar direto de seus administradores, o bispo e algum ajudante direto dele ao qual constituía como “chanceler”, o que poderia até ser confundido com a figura do Reitor, que temos em nossas universidades modernas.

O escritor Thomas Ramson diz que foi assim com as escolas em. “Cantuária, Winchester, Worcester, Rochester, Durban, Ely, Norwich, Coventry e Bath. Em cada sede havia várias escolas dirigidas pelo mosteiro.” Nesta época, além de canto adotou-se o “Trivium”, as três disciplinas, gramática, direito e teologia.

Quem se diverte com fatos históricos às vezes deve olhar o passado de forma evolutiva, como se a humanidade estivesse subindo degraus. Isto nos leva a entender, por exemplo, que em virtude da força da Igreja, a educação e o ensino começavam com disciplinas introdutóriasto, tudo objetivando chegar no ponto máximo do ensino, ou seja, na Teologia.

Com esse sistema, no ano de 1133, funda-se a universidade de Oxford, seguindo o programa da Universidade de Paris, modelo inicial das universidades inglesas. Em Oxford, universidade famosíssima até hoje, estudava-se filosofia, artes, teologia, física, medicina, direito. Porém, a mais importantes de todas, era sua faculdade de Teologia.

Particularmente, nunca desprezei teologia e até me matriculei em um bacharelado de 4 anos. E,ste foi o único curso que abandonei deliberadamente na vida, mas não porque não gostava e sim porque à época não podia pagar as mensalidades dele e do curso de inglês, como ferramenta para crescer no mercado de trabalho. Pensei, com meus surrados botões das pouquíssimas camisas que tinha à época, que entre a curiosidade e a preparação para o mercado de trabalho, eu precisava desta. Deu certo!

Em 1209, o rei Henrique III determina seja fundada a Universidade de Cambridge, em moldes parecidos com a de Oxford, mas com foco em matemática, idioma grego, e no estudo da Óptica, que é a parte da física que estuda fenômenos relacionados à luz. Observe que gradualmente as universidades começavam a encontrar sua  independência curricular.

Por  50 anos o processo educacional e de ensino floresceu. Mas, os intermináveis conflitos territoriais, entre Igreja e Monarquia, dogma e ciência, serão vencidos pelo dogma. É assim, que na segunda metade do século XIII, o interesse pela agenda intelectual sofre uma espécie de paralisia. Por que isto ocorre? Talvez pela acomodação de todos os atores envolvidos. Não é este o quadro do processo educacional e de ensino do Brasil e no resto do mundo?

Às vezes você assiste aos, “The Simpsons” e vê aqueles professores relapsos e sem compromisso algum com a educação e ensino, e não crê que aquilo ocorra nos EUA. Ocorre sim! Tenho amigos que estudam por lá. e filhos desses amigos que relatam o quanto são bons em algumas coisas, e extremamente ignorantes em outras disciplinas.

A questão é que o ser humano sempre vê um horizonte ilusório. Olha para alguns lugares e pessoas como se fossem perfeitas, como se fossem o paraíso. Caminham, nadam ou correm até lá e, quando chegam, descobrem que os problemas e dificuldades estão em todos os lugares. Por isto, crie músculos e alimente seu cérebro onde estiver a planta de seus pés. Vença aí mesmo. Você pode!

Observem que há séculos o Brasil não investe em centros de pesquisa. O que temos em nosso país são universidades e faculdades que não passam de centros reprodutores de conhecimento livresco, com uma boa parte de professores que fingem ensinar, e alunos, quase todos, a fingir aprender. Tanto um quanto outro possuem meios para ir além, mas juntam-se famílias, sociedade e Estado, todos esculhambados, querendo produzir alunos de excelência. O resultado é um cachorro correndo infinitamente atrás de arrancar, a pulga na ponta do rabo.

Um dos maiores erros que um país comete no campo do processo educacional e de ensino é ignorar que para cada dólar investido em pesquisa recebe um retorno dez ou doze vezes maior. Erro ainda maior é monetizar a educação e ensino como gasto, porque sem esse investimento que mude mentalidade, seguiremos mudando instituições, apenas. Ao contrário do que dizia o filósofo David Humes, a mudança que há de fazer nosso mundo um pouco melhor não vem de Instituições governamentais como Poder Judiciário, Legislativo, Executivo, etc., mas a mudança de mentalidade.

Mudemos o ser humano e mudaremos o mundo! Eduquemos nosso povo e seremos indivíduos e país hegemônico que estamos destinados a ser. A seguir no passo em que estamos não passaremos de vassalos na história do êxito alheio.

A Inglaterra soube dar seus passos. Nós, para onde estamos indo se a única coisa que sabemos é alimentar a estúpida e infrutífera briga entre imprensa, esquerda, e direita política, sem qualquer amor verdadeiro pela Nação, pela pátria brasileira?

A você leitor, recomendo ser crítico. Não creia nessa estupidez que está dominando nosso dia-a-dia, desligue seu cérebro das manobras de antigos e novos canais de TV. e dos cabos eleitorais da esquerda e da direita, e vá ler um bom livro e invista em seu crescimento pessoal. Esse cenário do Brasil de hoje, é a repetição dos últimos 520 anos de história. Não é isto que vai mudar sua vida e seu destino!

 

Continua…

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Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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