DR JUDIVAN VIEIRA

O Renascimento e sua influência no processo educativo e de ensino na Idade Moderna (Parte 8)

Direto de Brasília-DF.

A resistência do humanismo cívico

Quem despreza a História não tem interesse em compreender suas próprias origens. Por esta razão a disciplina “História” foi unanimidade entre todos os humanistas, desde os clássicos gregos a Cícero e aos humanistas do último século XIII a XV.

Em Florença Leonardo Bruni d´Arezzo foi o grande expoente do humanismo cívico desse período inicial da Renascença. Ele defendia que o cultivo da consciência do passado e da continuidade deste com o presente é que permite a quem estuda e compreende a História, extrair exemplos poderosos para construção de um futuro melhor.

D´Arezzo apregoava que o homem renascentista deveria ser bem educado e que esta qualidade era alcançada por quem lia bastante, via bastante da vida, para quem se formava em poesia, era bom orador e valorizava a História.

O humanismo cívico se espalhou por toda a Itália. Na cidade de Mântua fundou-se uma escola que tornar-se-ia a melhor da Europa. Nela, um professor chamado Vitorino da Feltre soma ao currículo humanista cívico já existente, o estudo da Lógica, Matemática, Geometria, Retórica, Música e Filosofia. Ele reequilibra o processo educativo e de ensino ao defender que a qualidade deste depende de uma séries de fatores, tais como:

1- a qualidade do mestre;

2- o envolvimento da família;

3 – o conteúdo da Lição; e

4 – o método empregado.

Vitorino da Feltre percebe que faltam livros para os mestres usarem e como forma de compensar tal fato introduz o uso de caderno para os alunos anotarem o que ouvem de seus professores e a repetição oral frequente. O ideal do humanismo cívico é formar caráter moral no aluno, em uma época em que o sentimento religioso e cívico se desintegrava na sociedade. Dentre os humanistas quem melhor percebeu a importância do papel do mestre(professor) foi um italiano chamado Guarino Guarini.

Guarini compreendeu que a maioria dos mestres era mal preparada sob o ponto de vista cultural e pedagógico. Para ajudar a solucionar esse problema fundou, em Veneza, sua escola, a primeira escola humanista da cidade e uma das primeiras da Europa. Por volta de 1436, Guarini já havia elevado sua escola a nível de Estudos Gerais, o que hoje seria comparado a um instituo de estudos superiores.

Quando Guarino Guarini defende a necessidade curricular de mestres com cultura de excelência e com alto conhecimento pedagógico, ele lança a semente de um processo educativo e de ensino que alcançaria meados do século XX. Infelizmente, daquele período até nossos dias a qualidade de professores e alunos seguem em franca decadência por razões variadas, tais como:

1 – As famílias transferiram a responsabilidade pela educação e ensino para o Estado e isto vem no bojo da ideologização política de esquerda e de direita, sempre que precisam replicar sua estratégia de domínio do poder pelo poder;

2 – O processo educativo e de ensino abandonou o método lógico-crítico e tornou-se meramente livresco e, em consequência, incapaz de desenvolver a curiosidade motora do processo criativo refletido pelo registro de patentes, por exemplo;

3 – Em muitos países o processo educativo e de ensino tornou-se uma linha de produção de conhecimento direcionado aos interesses de classes;

4 – O Estado e as famílias deixaram de valorizar os profissionais da educação e ensino e muitos destes, por razões várias, deixaram de valorizar o aluno e o ensino, numa espécie de vingança cega;

5 – A indisciplina dos alunos passou a ser protegida e justificada por inúmeras correntes comportamentalistas(psicológicas e psicanalistas), para as quais o livre arbítrio tem valor secundário em relação ao tal ser humano como “produto do meio”. Por esta razão todo defeito ou escolha errada de um adulto decorre de traumas e supostos traumas de infância. Neste ciclo vicioso ninguém é responsável por nada e todos são responsáveis por tudo;

6 – O Ensino Superior foi extremamente mercantilizado e as faculdades e universidades deixaram de ser centros de pesquisa para se tornar meros centros reprodutores de conhecimentos livrescos. A pesquisa que deveria ser regra virou exceção e a educação e ensino que deveriam produzir seres pensantes reproduz homens-massa, facilmente influenciáveis pela política utilitária;

A educação e ensino estão em perpétua crise porque são desinteressantes para as classes políticas. Dizer isto soa como estar falando a um plateia depois de uma longa viagem ao passado, mas o homem não muda quando mudam as leis ou as instituições. Os seres humanos mudam quando muda sua consciência cultural e, uma mudança assim, não tem como acontecer se a sociedade despreza o conhecimento de si mesma.

As crises que nos movem não têm fim! Observe que não bastassem as crises advindas de eventos imprevisíveis como pandemia ou epidemia, enchentes, desmoronamentos e outros eventos da natureza, nossos políticos assemelham-se a linhas de desmontagem da ordem e de montagem do caos social e econômico. Enquanto isto, o povo segue defendendo a uns e ofendendo a outros, sem compreender que faz o papel de “gladiador” na arena construída para a sórdida satisfação das classes políticas. Que lástima!!!

Até breve.

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Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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