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EDUCAÇÃO E ENSINO NA ANTIGUIDADE. EPISÓDIO DE HOJE: Roma e o processo educativo e de ensino na República (Parte 7)

Direto de Brasília-DF.

Roma, a cidade bilíngue: o grego e o latim catapultam a cultura, a economia e o poder militar da República e do Império

Como vimos dizendo, o processo educativo e de ensino romano que valorizava sobretudo as tradições ancestrais, a dignidade, a autossuficiência, a ordem social e a Lei (A “Lei das Doze Tábuas”), agora volta-se também para outras habilidades como:

  • Ler;
  • Escrever;
  • Retórica;
  • Gramática;
  • Literatura;
  • Poesia;
  • Estudo de documentos oficiais;
  • Fábulas;
  • Sátira Pornográficas (sobretudo o conhecimento das censuradas, pois eram as que mais divertiam os aristocratas-classe rica).

Não haviam escolas públicas, como tantas são as que hoje existem destinadas a alunos que sequer as valorizam. O processo educativo e de ensino só alcançava os filhos dos ricos/aristocratas, sem qualquer distinção entre escolar elementar, primária ou secundária e os estudos superiores só existiam para filhos de famílias aristocratas que podiam pagar professores particulares.

A terceira guerra púnica termina em 146 a.C., e a efervescência política e militar não afetava o processo educativo e de ensino romano no seio das famílias ricas. Aumenta o número de escolas particulares dentro da República e Thomas Giles diz que no ano 106 a.C., já havia uma espécie de currículo comum a essas escolas com as seguintes disciplinas: Lógica, Gramática, Retórica, Arte, Música, Dialética, Aritmética, Astronomia, Medicina e Arquitetura. Nesta época já havia mais de duas dezenas de escolas para o ensino da gramática grega e latina, só na cidade de Roma.

Os governantes da República incentivam a assimilação do helenismo e de suas ideias e com o passar do tempo, especialmente Júlio César parecia extremamente simpático ao viés helenista da introdução do DESPOTISMO ABSOLUTO que marcara o Império Macedônio de Alexandre, o Grande.

Alguns historiadores, aliás, acreditam que esse flerte com o despotismo absoluto constitui uma das razões alegadas pelos membros do Senado, para o assassinato de Júlio César em 45 a.C.. O Poder Legislativo acostumado a ter a direção da República, temia a ditadura de um só.

Os aristocratas (novos ricos) eram helenizantes. Gostavam da comédia grega de Tito Mácio Plauto, escritor satírico, por vezes acusado de ser desprezar e ser indiferente à política e de ridicularizar os deuses, porque é a isto que se presta o gênero satírico. Para identificar a hipocrisia e fazer com que ela beba do próprio veneno!

Gostavam também de escritores como Públio Terêncio Afro, outro comediante genial, autor de frases que usamos até hoje com frequência, como: “Enquanto há vida, há esperança” e “Sou um homem: nada do que é humano me é estranho”. As obras destes dois comediantes ainda hoje são encontradas na íntegra em livrarias do mundo.

Impossível não citar Caio Valério Catulo, o poeta tão apreciado e um dos que fizeram a chamada “Revolução de Alexandria” ao abandonar o velho estilo de fazer poesia e optar por versos curtos com palavras novas e sempre na busca de novos sinônimos, nessa descoberta que terminaria por valorizar o “novo”, o amor e a sedução, em uma poesia cuja preocupação era a liberdade de expressão dos sentimentos e a valorização do realismo vigente.

Esses escritores, questionados e às vezes por demais mal compreendidos estavam à frente do senso comum do cidadão romano ordinário. Ora, esperar que um pensador, um filósofo de conteúdo pense e aja igual ao comum do povo é como esperar que o sol não nasça todos os dias entre os dois círculos polares.

Aqueles pensadores greco-romanos primavam pela evolução metodológica do processo de educação e ensino, apesar da resistência das mentalidades tradicionais, indispostas a evoluir, a mudar a forma tradicional ou religiosa de pensar.

E, assim, logo após o assassinato de Júlio César o temor dos antigos aristocratas se volta também contra os novos aristocratas(os novos ricos/new rich da época).

Um escritor da época, uma daquelas pessoas que não conseguem compreender nem aceitar que a vida é um constante caminhar para frente, cujo nome é Marco Pócio Catão, apesar de considerado o primeiro escritor importante a escrever “Prosa” em latim queria que o processo educativo e de ensino romano voltasse a cultuar o homem agricultor, o médico, o guerreiro, e o jurista. Nada além!

Todavia, essa luta de Catão era tardia, pois no espírito das novas gerações a cultura helênica, que pregava o universalismo, não era mais um arbusto. Estava enraizada como um Carvalho Branco, que no início cresce pouco e lentamente porque está concentrando forças em fazer suas raízes aprofundarem no subsolo, mas que após se tornar árvore adulta, dificilmente cede a qualquer vento e assim foi o movimento helênico, tanto na República quanto no Império Romano.

Por isto foi inútil a forte resistência à helenização em Roma quer pelos Editos ou Decretos; quer pelos processos e condenações falsas de escritores, filósofos e políticos que seguiam os “ventos da modernidade”, inclusive quando as mulheres romanas entraram nessa briga e resolveram contratar tutores para aprender o idioma grego e, não só isto, passaram a comprar bibliotecas inteiras para poderem ler, escrever e informarem-se.

Contra o saber e a ciência havia revoltas e ódio. Aliás, isto não mudou porque uma das mais resistentes formas de ódio é aquele que se sente contra uma pessoa que sabe.

Os cultos nos muitos templos romanos, inclusive no Templo das Vestais possuía a mente dos fiéis que resistiam à cultura do novo processo de educação e do novo processo de ensino e aprendizagem, fundamentados no dogma, ou seja, nas verdades “absolutas” colhidas diretamente nas “árvores da superstição” e do tradicionalismo que alimentam civilizações inteiras.

É ponto pacífico que o dogma mantém certas mentes em estado inalterado, quase “vegetativo”, pois neste estado não se permite pensar, evoluir, questionar, como a ciência exige. Mas, parece haver um momento no tempo e no espaço em que a História sopra com uma força tal que, “ou vai ou racha”…

Até breve!

Fotos de arquivo pessoal:

Ruínas de: Templo das Vestais/Roma.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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