Segundo dados do IBGE, a média de expectativa de vida no Brasil em 1999 era de 68 anos e, em 2010, chegou a 73 anos, mas agora a previsão é ultrapassarmos essa perspectiva em 2020. De fato, dados da pesquisa “Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2018”, mostra que a população brasileira com 65 anos de idade ou mais cresceu 26% entre 2012 e 2018, ao passo que o grupo de até 13 anos recuou de 6%. Desta forma, temos um latente envelhecimento com um volume cada vez mais crescente de idosos do que jovens e, com isso, o país encara um desafio com a qual nunca se defrontou antes: a desigualdade do aumento e envelhecimento do cidadão brasileiro, com 212 milhões de habitantes, que cresce até 2045, frente uma juventude que sempre foi a maioria da população. “Existem duas forma de envelhecer. Você pode envelhecer com saúde ou você pode envelhecer doente. Então, cada dia que passa, estamos ficando mais velhos e mais doentes. E o ideal é programar a nossa velhice com saúde, através de uma análise metabólica para que tenhamos no futuro mais qualidade de vida. E isso passa por várias questões como alimentação, sono, suplementação, dietas, práticas de exercícios físicos, mobilidade e habitação”, destaca a Dra Carina Brito, especialista em mastologia e longevidade.
E, a preocupação é de fato importante uma vez que o cenário atual mostra um índice cada vez maior da população de idosos que chega hoje a 7,8% da população é de idosos. Além disso, dados já apontam que este público passará por incremento de 11,4% em 2030, crescimento que traz várias implicações importantes como destaca também o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil): 85% da população com 50 anos ou mais vivem em áreas urbanas e relatos desse índice enfatiza que 43% tem medo de cair na rua, assim como em meio à rotina cada vez mais agitada do dia a dia as possibilidades de quedas e acidentes em casa é uma realidade. “Aumentar a longevidade é uma ação que deve ser desenvolvida com apoio médico para prevenir doenças da idade, inflamatórias e doenças crônicas, que podem comprometer a qualidade de vida das pessoas. Isso significa não esperar que essas doenças sejam desencadeadas ou sintomas aparecerem para poder tratar o paciente. A perspectiva é observamos o paciente como um todo para desenvolver rotinas e promover melhor a saúde durante esse processo de envelhecimento, de acordo com a vida dele”, enfatiza.
Por isso, as pessoas não conseguem normalmente praticar coisas básicas, de acordo com a médica, que podem ajudar a ter uma vida melhor, como comer bem, dormir bem, praticar atividade física e controlar o estresse. Isso explica ainda o motivo das pessoas estarem tão estressadas nos dias atuais, uma questão que começa a acelerar o metabolismo e fazer com que fique mais velha mais cedo. Ou seja, a idade cronológica é uma, porém biologicamente você fica velho. Com esse envelhecimento da população e do aumento da expectativa de vida, a arquitetura dirige seu olhar para essa fatia da sociedade que requer cuidados e atenção diferenciada. “De acordo com a Organização Mundial de Saúde, essa terceira idade é a fase da vida que começa aos 60 anos nos países em desenvolvimento e aos 65 anos nos países desenvolvidos. Por isso, é importante pensar na promoção de ambiente que promovam inclusão. Afinal, uma boa arquitetura é aquela pautada para acolher quem nela mora, assim como os espaços externos e públicos não podem se omitir quanto à acessibilidade, que é fundamental nos dias de hoje”, comenta o consultor e arquiteto Anderson Aragão, especialista em Acessibilidade, Planejamento de Transportes e Desenvolvimento Urbano.
Os ambientes não só devem ter ênfase no conforto ambiental e na estética como deve ter esse olha de acolhimento e cuidados à saúde, para estimular um lugar na qual a pessoa se sinta a vontade em sua convivência diária e despreocupada com impactos à sua saúde. “O mercado oferece cada vez mais produtos de bom gosto e qualidade com excelente custo/benefício que são desenvolvidos com o propósito de proporcionar aos profissionais a capacidade de criar projetos que visem às necessidades de pessoas que tem problemas de mobilidade e aos idosos. Com isso, a arquitetura pode oferecer melhor qualidade de vida”, diz. De fato, a partir da instituição da Lei n° 10.098, de 2000, conhecida como Lei da Acessibilidade, que estabelece normas gerais, para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, surgiram orientações que contribuem com a construção de projetos de comerciais e residenciais adequados para as novas realidades.
É possível assim desenvolver inclusive os projetos preventivos, que sejam moldadas com estruturas adaptadas para atender o envelhecimento da população, como a inclusão de rampa, corrimão, guarda-corpo e piso tátil, por exemplo. “Quem está nessa faixa etária ou sofre com mobilidade precisam de ambientes nas quais se encontrem mais seguros, que apresentem menor possibilidade de quedas e acidentes e que possam lhe proporcionar maior qualidade de vida. E são elementos fundamentais que se voltam desde ao formato das portas, altura das bancadas e a estrutura de iluminação dos ambientes, sejam residenciais ou comerciais”, completa Aragão. Projetos adaptadas para ambientes seguros devem, desta forma, prever portas largas para ajudar na entrada nos ambientes por cadeirantes ou outros objetos como bengalas, andadores ou muletas. Em virtude de problemas de vistas e ainda de memória, torna-se muito importante a instalação de sensores de presença de iluminação.
Tapetes antiderrapantes são fundamentais para evitar que se escorregões e acidentes, em espaços específicos, pois seu uso em todos os cômodos não é recomendado. O mobiliário deve ter arredondados para evitar que as pessoas se machuquem ao esbarrarem nos móveis. Pensar na disposição dos objetos na cozinha são ainda um detalhe essencial pois os armários e as bancadas precisam ter altura adaptada, altura entre 80 a 95 cm, facilitando a visualização e manuseio dos objetos. E por último, porém, não menos importante, temos a questão do banheiro que tem que se apresentar barras de apoio, banquinhos dentro do box e ainda fitas incolores antiderrapantes para reduzir acidades em pontos em contato com água. Além disso, a porta deve abrir para fora. “Todos esses detalhes tornam o ambiente adequada para um público que requer um cuidado extremamente relevante, uma vez que a mudança desse processo de acessibilidade é uma realidade sem volta no trabalho de arquitetura”, enfatiza Anderson Aragão.
Por: Evelise Buarque – Gestão de Comunicação
Foto: Divulgação