Direto de Brasília-DF.
Quando os cientistas, escritores e filósofos iluministas no século XVIII, a iniciar na França e após por toda a Europa defenderam o uso da razão em oposição à tradição e ao pensamento religioso abriram uma importante discussão ao mundo.
Todavia, é necessário compreender que quando mencionavam a palavra “razão” falavam, em verdade, de “racionalização” do modo de compreender a vida como um todo ou em relação a pontos como o progresso da ciência, o poder absoluto do rei, a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Razão é a capacidade de raciocínio nata do ser humano que não nasce louco e que lhe permite ter consciência do mundo e de suas experiências sensoriais. Razão, que é sinônimo de “mente” pode ser entendida também como a faculdade de consciência e pensamento.
Esse primeiro sentido ou conceito do vocábulo “razão” não pode ser esquecido, sob pena de confundirmos o “como” com o “quê”, na interpretação que fazemos dos objetos e das pessoas. É com a “razão” (no sentido “mente ou cérebro”) que oferecemos as “razões” ou seja, as “explicações” ou justificativas de como funciona algo ou alguém. É com a razão que buscamos o porquê das coisas e depois explicamos o que entendemos.
Desse modo, quando alguém explica ou justifica qualquer ação ou omissão sua, seja em relação a fazer o que deve ou deixar de fazer o que deve e, este alguém se justifica, o que faz é usar a “razão” (cérebro) para arrazoar ou oferecer “razões” do que fez ou não fez nem pretende fazer.
As “razões” nascem em um cérebro racional. Se serão verdadeiras ou falsas, se serão lógicas ou ilógicas, esta é outra discussão. Fato é que oferecer “razões” ou motivos para atos importantes passou a ser uma exigência até mesmo legal, de tão importante que é explicar as causas de certos resultados que produzimos, ao viver em sociedade.
Como exemplo da exigência legal de se apresentar razões ou justificativas cito o art. 50 do Código de Processo Administrativo Federal do Brasil (Lei nº 9.784/99). Por curiosidade… Veja que interessante:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I – neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III – decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV – dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V – decidam recursos administrativos;
VI – decorram de reexame de ofício;
VII – deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII – importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
Como este artigo não é o palco para estudo das sete perguntas aristotélicas do saber, prefiro avançar para o episódio de hoje: “Símbolos e Escrita dentro do processo educativo”.
Saiba que são muitas as dádivas que um ser humano pode ou não receber do universo. Por exemplo, a vida, saúde física e mental e a liberdade são três dádivas de valor inestimáveis. Nascer com a “razão” intacta para fazer intercâmbio cultural com a vida e suas muitas nuances é, sem dúvida, algo pelo qual se deve ser grato todos os dias.
A esse processo de nascer e ser uma pessoa racional, o ensino e a educação oferecem a capacidade de racionalizar a vida, recebendo, decodificando, processando e aplicando as informações que os sentidos capturam. Aqui, importa a mim e a você sabermos que toda informação útil é um ensinamento que existe para nos educar a resolver alguma espécie de problema que nos desafia. Afinal, o ensino produz conhecimento e, a verdade ou essência do conhecimento não é a auto proclamação de si (conhecer por conhecer), mas a solução de algum problema que diga respeito ao funcionamento de uma engrenagem qualquer, seja esta engrenagem uma pessoa ou os Multiversos(hoje não dá mais para falar em Universo, diante da descoberta científica de tantos outros universos além do nosso…)
A assimilação desse conhecimento a que referimos e do processo educacional que está presente em todos os contextos da vida, dar-se-á por meio de fatores diversos, tais como a tradição oral em que os mais velhos transmitem verbalmente a cultura de seus ancestrais ou por meio de símbolos diversos como os desenhos rupestres(gravados em rochas) do homem pré-histórico, hieróglifos usados pela antiga sociedade egípcia e por indígenas americanos como os maias e astecas e, por óbvio, a escrita cuneiforme desenvolvida pelos povos caldeus, entre eles os antigos povos sumérios e babilônios.
O Professor Thomas Ransom Giles diz que “a fala permite ao homem libertar-se do imediato e, sobretudo, do acaso; mas o simbolismo, expresso através da escrita… abre um campo de comunicação muito mais vasto e permanente”.
Agrada-me quando Giles se refere à vastidão e permanência da comunicação como um efeito da fala. Assim, mesmo que um ser humano não possua todos os sentidos para comunicar-se e intercambiar conhecimento e educação com a própria vida, é fato incontestável que a fala amplia a comunicação e foi responsável pelo primeiro ciclo ou processo evolutivo, ao nos permitir disseminar conhecimento pela tradição oral. A fala nos fez dar saltos de qualidade e quantidade existenciais. Como é bom falar, comunicar nossas ideias!
Como a vida é evolutiva, ela seguiu seu constante caminhar para frente e nesse caminhar somou à fala, a escrita com seus símbolos e significados. a fim de fortalecer a fragilidade da tradição oral. Afinal, o que aqui se fala em minutos pode ser esquecido. Com essa fragilidade na tradição oral, é possível dizer, também, que sua “verdade” é facilmente manipulável! Por isto, a palavra escrita adquiriu “ares” de coisa “santa”, de iluminação dos deuses e quem a dominava, na antiguidade, também passou a ser digno de veneração, adoração e privilégios.
Ao perceber o poder da escrita, o ser humano primitivo atribuiu a ela origem mística, divina, ao ponto de um dos povos caldeus (na Babilônia),os Sumérios, haverem criado em sua mitologia o deus Nabu como o deus da escrita e da sabedoria (referido na bíblia como Nebo, leia no livro de Isaías 46:1), nessa simbiose em que deuses criam homens e homens criam deuses.
A escrita era dom divino e quem a decifrava tornar-se-ia um abençoado ou agraciado pelos deuses. O restante da população o consideraria e chamaria de… sábio.
Quando reflito sobre a História da Educação e do Ensino e vejo a importância da leitura e da escrita, ponho à parte as mitologias e misticismos e tento mas não consigo compreender o porquê de nossos alunos detestarem o ato de ler e escrever, pois em meu sentir a maior revolução na vida social de uma pessoa é aprender a ler e escrever e pouco tempo depois estas duas atividades passam a ser desprezadas, até mesmo odiadas por alguns. O que era “benção” se transforma em “maldição” e o “ser” que enxergou a luz prefere apertar o botão do “desliga”, do turn off e voltar à escuridão…
Leia! Escreva!
Porque se até os deuses dependeram e seguem dependentes da escrita para sobreviver, não serão meros mortais como nós que resistirão ao esquecimento que o tempo impõe a quem não deixa uma marca, um símbolo e um significado para a História…
Até breve, ou não…