Direto de Brasília-DF.
A lição é o problema a ser resolvido. Afinal, o conhecimento que alguém adquire tem ou deve ter por finalidade resolver problemas. É para isto que o conhecimento deve servir. Quando a questão está resolvida ou dogmatizada não há porque investigar nem buscar respostas.
Nossos currículos escolares deveriam focar exclusivamente em ensinar a duvidar e a resolver dúvidas. É nestas atividades que uma pessoa cresce e se desenvolve e, não se engane, o desenvolvimento de uma e de cada pessoa que forma uma Nação é que faz um país se desenvolver.
Eis porque há disciplinas opcionais e outras, como o ensino de religião, que sequer devem existir nas escolas. Explico! Religião é matéria dogmática. O que é um dogma? Dogma é uma verdade que pretende ser imutável! Ora, o que é imutável se a única constância do Universo é a mudança?
Quem acredita em dogmas não tem porque buscar coisa alguma além da verdade que já conhece, que já está cristalizada, solidificada em sua mente. Provavelmente, sequer admitirá que existe outra verdade. O problema do dogma é que ele não admite questionamento e, sem a dúvida não há novas descobertas e, por conseguinte, não há evolução.
Quem não duvida não alcança estágio algum diferente daquele em que vive! Aprender a lição que o professor ensina é como entrar em um mundo novo. É avançar à fase seguinte na aventura de viver e se desenvolver.
O professor deve ter a exata noção de que ele é um farol na noite escura da ignorância de seus alunos. Deve ter humildade para preparar a lição para o aluno, partindo sempre de alguma verdade já conhecida.
Não sou religioso. Mas, impressionei-me com um livro que um aluno presenteou-me. Seu título?!? A pedagogia de Jesus! O livro mostra como Cristo foi capaz de atingir a excelência no discipulado de seus alunos por meio de parábolas. Esta figura de linguagem baseia-se na construção de novas verdades que devem ser apreendidas à partir de verdades já conhecidas.
Por exemplo, quando Cristo usou a parábola do SEMEADOR, falou de coisas que todos os seus ouvintes compreendiam tais como: a semente, os tipos diferentes de solo, a pessoa que planta e a germinação do plantio. Qualquer pessoa se identifica com a lei do plantio, do cultivo e da colheita. Esta é uma verdade conhecida, mesmo para quem não nasceu no campo.
Quando um professor de ciências exatas se propõe a falar de sua disciplina deve saber que não basta ensinar aritmética ou geometria. É necessário que explique ao aluno como aplicar em seu dia a dia. Deve demonstrar ao aluno que os cálculos que aprende são úteis quando for construir alguma edificação, desde um simples muro até aos grandes arranha-céus, prédios que se assemelham a cidades verticais.
Um professor que ensina idiomas deve explicar a seus alunos que não há comunicação sem que ele domine os símbolos que compõem a linguagem. Por exemplo, eu estava atravessando o Deserto do Saara, no Egito, e me senti completamente cego, surgo e mudo, diante dos sinais de trânsito escritos em árabe, pelo simples fato de não conhecer o idioma. Não basta haver linguagem. É necessário haver comunicação e esta somente existe quando a mensagem é decodificada por todos os sujeitos envolvidos na comunicação.
O Professor deve despertar o interesse do aluno pela disciplina que ensina. Se houver interesse haverá atenção, porque interesse e atenção são despertados pela linguagem utilizada. É ela, a linguagem, que vai produzir a assimilação da LIÇÃO, que será melhor assimilada se for ensinada à partir de uma ou mais verdades já conhecidas.
Não importa a idade do aluno. Ele assimilará a lição de física, química, matemática, artes ou do que quer que seja, à partir de verdades que conheça.
Como falar em grego com alguém que não conhece grego? Numa ação destas há um emissor (alguém que emite uma mensagem) e há receptor de tal mensagem, mas não há comunicação quando não há decodificação da linguagem!
Não havendo compreensão do que foi dito não há linguagem e, como consequência, não há que se falar em Lição, haja vista que esta tem por fim o entendimento de uma determinada verdade, de um conhecimento capaz de resolver algum tipo de problema, seja ele das ciências exatas, humanas ou da vida prática. Uma Lição eficaz é aquela que serve à resolução de problemas antes insolúveis ao aluno.
É importante, também, que a cada nova Lição seja demonstrado ao aluno o link com a Lição anterior. O professor deve ter o cuidado de demonstrar que o fato anterior está conectado com o fato posterior, porque do contrário estará transmitindo pedaços soltos de conhecimentos que não se interligam na mente do aluno e, em assim, sendo, tão logo saia da sala de aula desprezará o que foi ensinado.
John Milton Gregory diz que “cada fato conduz ao outro e o explica. O velho revela o novo, e este confirma e corrige aquele”(No livro: As sete leis do ensino, p. 43).
Conhecer passa por comparar e formar juízo de valor sobre o objeto do conhecimento. Lembro-me que quando estudei inglês em Nova Iorque, meu querido Professor Eric Jones nos ensinava a interpretar textos de um de meus escritores favoritos, Edgar Alan Poe, e certo dia para que os textos fossem vivificados em nossas mentes de alunos, nos levou a visitar a casa do escritor no bairro dono Bronx. Eric nos fez comparar as experiências literárias do escritor com o ambiente em que vivia. Os Professores devem se esforçar para tornar o ensino vivo!
Muitos alunos não se interessam pela Lição porque ela se mostra inútil para o dia a dia e, por conseguinte, passa a ideia de que é morta.
Um vez que a tônica e a lógica do Universo é a diferença, aprender a comparar, é aprender! O passo seguinte ao comparar deve ser o fazer juízo próprio. Enquanto Professor sempre disse a meus alunos que enquanto tiverem conceitos decorados de ouros escritores, o conhecimento não é deles!
Um professor deve levar seus alunos a duvidarem sempre! Deve fazer com que re-elaborem os conceitos já formulados por outras pessoas. Ao processar o conceito em sua mente e ao reformulá-lo, o aluno passa a dominar e a reinventar aquela verdade como sua. Seja o idioma, a física, a química, a história, a geografia, a filosofia.
Pode o desconhecido explicar o conhecido? Difícil crer que sim! Como posso usar como exemplo o conteúdo de um buraco negro ou de um supernova para quem jamais ouviu falar ou estudou física e astronomia? Como falar ao meu aluno de Ética se ele não sabe o que é Ética? Palavras são signos sem significantes para quem não domina sua simbologia, sua grafia, seu significado.
Uma Lição transmitida em linguagem ininteligível não é uma Lição! É um bó, bó, bó; bó, bó, bó: bó, bó, bó. Mais ou menos como a voz da Professora do desenho animado do Charlie Brown, com a diferença que ninguém entende coisa alguma!
Cada pessoa tende a compreender melhor uma Lição se ela é ensinada à partir do seu universo de conhecimento. Talvez Milton Gregory tenha razão quando diz que “conhecimento é um registro de problemas resolvidos”. Afinal, há leis que regem os fatos e estes à partir do momento que os coletamos, submetemos à experimentos que comprovam sua verdade e em seguida os organizamos em sistemas, se transformam em um registro de problema resolvidos.
O que objetiva uma Lição? Transmitir conhecimento! Para que necessitamos de conhecimento? Para resolver problemas!
O ensino deve ter como alvo o despertar de conhecimentos novos, de habilidades, de ideais e de proficiência dos alunos para a solução dos inumeráveis problemas que enfrentarão por toda a vida. O Professor, o aluno, a linguagem e a Lição, são leis inseparáveis da evolução pessoal e coletiva de toda uma Nação.
Negligenciar tais leis é se manter no sopé da pirâmide do desenvolvimento, mesmo com os meios disponíveis a se alcançar seu topo.
Até breve!